Público - 14 Jun 03
Portugal Entre Os Que Mais Ajudam Os Países Pobres
Por ALEXANDRA PRADO COELHO
Portugal aparece em terceiro lugar, a seguir à Holanda e à Dinamarca, num
ranking dos países que "realmente ajudam os pobres", elaborado pelo Center for
Global Development (CGD), de Washington, e pela revista norte-americana "Foreign
Policy". O estudo, que contesta algumas ideias geralmente aceites sobre a ajuda
dada aos países mais pobres pelos mais ricos, coloca o Japão no 21º e último
lugar do ranking, e os Estados Unidos no penúltimo.
O que é que justifica que os maiores países, e aqueles que, em termos absolutos,
dão uma maior contribuição em ajuda aos necessitados, apareçam no fim da tabela?
A explicação é óbvia: são os critérios utilizados pelo CGD.
Os cálculos são complexos e envolvem uma grande quantidade de factores, alguns
dos quais têm um peso positivo, enquanto outros têm um peso negativo.
Um exemplo: a quantidade de ajuda económica é valorizada, mas o facto de esta
ajuda estar sujeita a condicionantes é um factor que pesa negativamente. A "tied
aid" - ou seja, a ajuda que é dada para a construção de uma estrada na condição
do país receptor contratar uma empresa do país dador para a construir - é
penalizada.
Por outro lado, um país pode ter um muito bom resultado num campo, e ter zero
noutro, o que faz baixar a sua média. É o caso da Grécia, que tem 9 em
participação em forças de manutenção da paz (todos os dados são relativos à
dimensão do país), e zero em investimento externo - com tudo somado acaba por
ficar no 13º lugar.
O que o CGD contesta é a ideia de que quanto maior for a quantidade de ajuda
financeira dada, mais um determinado país ajuda outro e contribui para o seu
desenvolvimento económico e social. É por isso que os dados utilizados para o
estudo incluem as relações comerciais, as preocupações ambientais, o
investimento, as políticas de imigração e a participação em forças de manutenção
da paz. São penalizados o apoio a regimes corruptos - e isso explica em grande
parte o lugar ocupado pelos EUA no ranking -, a obstrução a importações de
países em vias de desenvolvimento e políticas prejudiciais ao ambiente.
O caso das barreiras ao comércio é exemplar para se perceber o impacto de certas
políticas. Segundo dados do Banco Mundial, as barreiras comerciais nos países
desenvolvidos custam aos mais pobres cerca de 100 mil milhões de dólares por
ano, o que representa duas vezes o que as nações ricas dão em ajuda. O comércio
é um domínio em que os EUA têm um bom resultado, e em que o último lugar
pertence à Noruega, cujas políticas muito proteccionistas são penalizadas pelo
CGD.
Dentro de cada uma das áreas analisadas há pequenos factores que podem
interferir no resultado final. No campo do investimento, por exemplo, os
responsáveis pelo estudo penalizaram as empresas italianas por serem as mais
corruptas e tenderem a pagar "luvas" para a realização dos seus negócios noutros
países. Portugal, juntamente com a Holanda, a Espanha e a Suíça, é apresentado
como um exemplo de investimento directo estrangeiro "saudável". A "Foreign
Policy", que está ligada ao estudo, explica num artigo que o objectivo deste
Índex do Empenho no Desenvolvimento (Commitment to Development Index) é provocar
discussão pública, e levar os políticos a olhar de maneira diferente para as
formas de ajuda aos outros países. E sublinha que isso se aplica às 21 nações
que fazem parte do ranking, porque mesmo a Holanda, que ficou em primeiro lugar,
tem uma performance de apenas 5.6 pontos numa escala de 10.
Mas as principais críticas vão para os mais ricos. Segundo a "FP", os membros do
Grupo dos Sete, os países mais industrializados do mundo - Canadá, França,
Alemanha, Itália, Japão, Reino Unido e Estados Unidos - não têm resultados que
impressionem, e não são eles os verdadeiros líderes porque não usam todo o seu
potencial.
"Quem é que actualmente lidera o mundo no desafio do desenvolvimento?", pergunta
o artigo. "Segundo o CGD, são a Holanda, a Dinamarca e Portugal. Embora pudessem
ter um desempenho melhor, estas três nações são um exemplo para outras nações
ricas. Mas, tendo em conjunto uma população inferior à da Tanzânia, dificilmente
podem liderar sozinhas".

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