Aceprensa - Edição 48 - Jun 03
Anticonceptivos não impedem
gravidezes não desejadas
Estudo questiona também a
eficácia dos preservativos para prevenir o contágio da SIDA.
A ideia de que a difusão dos
anticonceptivos garante um eficaz controlo de natalidade e, portanto, previne o
aborto está muito enraizada. Segundo um estudo realizado em França, dois terços
das gravidezes não desejadas produzem-se em mulheres que estão a utilizar
habitualmente anticonceptivos.
O estudo foi realizado por Nathalie Bajos e Nadine Job-Spira, investigadoras do
Instituto Nacional da Saúde e da Investigação Médica (Inserm), e será publicado
no próximo número de Human Reproduction, revista da Sociedade Europeia da
Reprodução e Embriologia Humanas. Segundo os dados que adianta o Le Monde
(3-V-2003), o estudo fez-se com um grupo de mil e oitenta e quatro mulheres que
acabavam de abortar ou que não tinham desejado a sua última gravidez. Também se
teve em conta outro grupo de mil e oitocentas e vinte e nove mulheres escolhidas
ao acaso numa amostra representativa de 14704 lares.
Tendo em conta estes dois grupos, as autoras do estudo concluem que dois terços
das gravidezes não desejadas, tenham dado lugar ou não a um aborto, correspondem
a mulheres que declaram utilizar um meio anticonceptivo.
Em todos os métodos anticonceptivos empregados detectaram-se erros de utilização
ou falhas não explicadas. Por exemplo, 60% das mulheres que tomavam a pílula
declaram ter deixado de a tomar uma ou várias vezes. Cinquenta e sete por cento
das que utilizavam o DIU declaram não compreender as razões da sua gravidez.
Quanto à eficácia do preservativo, metade das mulheres cujo companheiro utiliza
habitualmente o preservativo declaram que deslizou ou rasgou, o que questiona
também a sua eficácia para prevenir o contágio da SIDA.
As investigadoras advertem que frequentemente o método anticonceptivo escolhido
não é o adequado às características de determinadas mulheres. "É necessário
distinguir entre os métodos anticonceptivos que em teoria se consideram os mais
eficazes, e os que são mais fáceis de usar numa etapa da vida e segundo as
características das relações sexuais", afirma Bajos.
Em França, os demógrafos consideram que a prática da anticoncepção alcançou o
seu tecto. No entanto a difusão dos anticonceptivos não impediu que o número de
abortos se estabilize num número elevado (190 000 declarados oficialmente e 220
000 na realidade segundo estimativas). Os especialistas advertem que quanto mais
se afiança a prática anticonceptiva, mais se recorre ao aborto em caso de falha.

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