Católicos querem comparar propostas para não
traírem consciência na hora de votar Nuno Simas
Abaixo-assinado desafia partidos a dizer o que
pensam sobre a "protecção da família" ou o respeito
"incondicional" pela vida. Para os eleitores depois
decidirem o voto nas legislativas
Antes das legislativas de 2005, lançaram uma carta
aberta aos eleitores apelando ao voto com
"discernimento responsável". A preocupação era com o
aborto, os casamentos homossexuais ou a adopção por
casais gays, por exemplo. Hoje, passados mais de
quatro anos, o referendo ao aborto e o adiamento dos
projectos fracturantes dos casamentos homossexuais
para a próxima legislatura, alguns dos católicos que
assinaram essa carta aberta voltaram a pôr o seu
nome numa nova carta aberta. Desta vez dirigida aos
partidos.
Agora, querem respostas para o eleitor cristão não
"trair a sua consciência no acto de votar". Querem
saber o que pensam sobre a "defesa e a protecção da
instituição familiar, fundada na complementaridade
homem-mulher". Ou o que pensam do "respeito
incondicional pela vida humana em todas as suas
etapas". Podem ser menos explícitos do que no
anterior documento, mas as questões, no fundo, são
as mesmas, a que se juntam outras preocupações, como
o testamento vital ou as soluções para problemas
sociais como o desemprego ou o combate à corrupção.
"A carta aberta é um contributo para que as opções
dos partidos sejam mais transparentes sobre matérias
de grande importância para todos os cidadãos e não
só para os católicos", justificou ao PÚBLICO Mário
Pinto, porta-voz do grupo de mais de 60
personalidades que lançaram a carta aberta de
católicos aos partidos. E servirá para os eleitores
fazerem as suas escolhas - "escolhendo uns e
recusando outros".
Matilde Sousa Franco apoia
O documento tem o título "Votar em liberdade de
consciência tranquila" e é assinado por
personalidades como o ex-ministro Bagão Félix, o
médico Gentil Martins, o professor universitário
Fausto Quadros, a advogada Isilda Pegado ou o
economista João César das Neves. Braga da Cruz,
reitor da Católica, António Pinheiro Torres,
advogado e da Federação Portuguesa pela Vida, e a
deputada independente Matilde Sousa Franco, eleita
pelo PS, são outros dos subscritores.
Mário Pinto justifica que este grupo de pessoas está
"em sintonia" com os bispos e com a carta pastoral
de 23 de Abril, que define "alguns critérios" para
"escolher quem possa melhor contribuir para a
dignificação da pessoa e a realização do bem comum"
- os direitos humanos, a procura de soluções, a
situação dos imigrantes e das minorias, a "atenção
às carências na saúde e ao exercício da justiça".
"Estas são questões que os eleitores católicos
querem esclarecidas. Só no confronto dos programas
apresentados com estes critérios para apuramento do
sentido de voto (escolhendo uns e recusando outros)
é possível ao eleitor cristão não 'trair a sua
consciência no acto de votar'", lê-se no texto da
carta aberta.
Segundo Mário Pinto, está em aberto o grupo de
subscritores vir a tomar uma posição comum, mais
tarde, depois de receberem as respostas dos
partidos.