Público  - 25 Jul 08

 

Consumidores vão ter quatro tarifas diárias de luz em 2009
Lurdes Ferreira

 

Novas regras de eficiência para a REN tocam na remuneração dos seus activos, passando a ter limites máximos para custos de exploração

 

A A Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE) abandonou, por falta de consenso, duas das propostas mais debatidas entre um conjunto de 23 levadas a discussão pública. São elas a partilha com a generalidade dos consumidores das dívidas de electricidade à EDP Distribuição e os ajustamentos trimestrais das tarifas.

 

Em contrapartida, a ERSE avançou com a mudança do modelo de regulação da REN - considerada a mais importante de todo o pacote por alterar as taxas de remuneração dos activos da operadora de transporte -, as tarifas tri-horárias e tetra-horárias e a partilha de custos da microprodução por todos os consumidores e não apenas domésticos.

 

No caso do modelo de regulação da REN, o operador passa a ter incentivos à eficiência do investimento, visando baixar os custos de capital e os custos operacionais.

 

Na defesa do papel de "árbitro" da ERSE e com temas a debate que "não reflectem necessariamente uma convicção absoluta da entidade", o presidente da ERSE, Vítor Santos, admite que esta consulta pública comportou uma lição no que se refere à polémica sobre os incobráveis. "Temos de ser mais pedagógicos na informação ao consumidor. Há um trabalho a fazer no sentido de descodificar para antecipar estas situações", reconhece o presidente da entidade, no rescaldo da discussão, na qual "não obteve a receptividade necessária" para a medida ser adoptada. Apesar de considerar que era uma "proposta consistente", o debate incentivou a percepção de que os consumidores cumpridores pagam sempre, com o risco de "comportamentos perversos", ou seja, os cumpridores deixarem, por isso, de pagar.

 

A Academia de Formação, recentemente lançada pela ERSE, e que vai funcionar através de parcerias com várias entidades para informar públicos-alvo, deverá ser o veículo privilegiado para as acções de informação.

 

No caso dos ajustamentos trimestrais, a ERSE não desiste da ideia, mas entende que "deve ser aprofundada", face à volatilidade dos preços da energia. O problema também afecta a própria EDP Distribuição, enquanto comercializador de último recurso, e a termo mais longo, os consumidores. A empresa reconhece, no âmbito da discussão pública, que o desencontro entre a evolução dos preços da energia no mercado e o seu ajustamento nas tarifas equivale a um défice de cerca de 450 milhões de euros.

 

Embora não tenha estimativas exactas sobre o peso que estas medidas terão sobre as tarifas em 2009, o presidente da ERSE assegura que ou visam reduzir custos, como as referentes ao modelo de regulação do transporte ou para as regiões autónomas, ou têm um primeiro efeito neutro, como as opções tarifárias. A prazo, estas deverão contribuir para uma diminuição de custos, já que os consumos mais eficientes reduzem a necessidade de capacidade ociosa no sistema eléctrico.