Jornal de Notícias - 21 Jul 08

 

Agentes da justiça alarmados com aumento previsível da litigância com nova legislação
Juízes pedem a Cavaco que vete lei do divórcio
Isabel Teixeira da Mota

 

Em muito tribunais teme-se o aumento da litigância com a entrada em vigor da nova lei do divórcio. O diploma foi para as mãos do presidente da República na semana passada e muitos defendem que Cavaco deve vetá-lo.

 

Segundo apurou o JN, são muitos os juízes de tribunais de Norte a Sul do país, nomeadamente de Família e Menores, bem como procuradores, advogados e professores de Direito que se preparam para, em conjunto, solicitar ao Presidente que devolva a lei ao Parlamento. O argumento central é que o novo regime vai aumentar substancialmente a litigância nos tribunais, com prejuízo para as partes mais desprotegidas.

 

Sob total confidencialidade - apenas Cavaco Silva conhecerá os seus nomes - este grupo de profissionais do Direito queixa-se de que o parecer entregue pelo Conselho Superior da Magistratura à Assembleia da República, em Maio, não tenha sido ponderado devidamente pelos deputados.

 

"Este não é um debate de valores, é um debate de justiça. São razões de Justiça o que nos move", disse ao JN um dos juízes envolvidos no parecer, que falou sob anonimato.

 

Por isso, disse, "o presidente deve remeter de novo a lei ao Parlamento para que se encontrem soluções que tutelem os interesses da família, a igualdade dos cônjuges e a paz social e jurídica na sociedade portuguesa".

 

Recorde-se que, em 2006, Cavaco Silva chamou a atenção para os cuidados a ter no divórcio, em especial para a estabilidade das famílias e dos filhos menores.

 

Ora, uma das críticas apontadas no parecer é a do aumento do conflito decorrente da imposição do exercício conjunto das responsabilidades parentais. O parecer também chama a atenção para a desprotecção das pessoas em maior dependência económica - mulheres e filhos menores - decorrente da instituição da regra de compensação.

 

"É previsível que não inverta as desigualdades existentes entre os ex-cônjuges e tenda a acentuá-las", lê-se no texto em consulta no portal do Parlamento.

 

Sobre o divórcio sem consentimento, central para o PS, o CSM defende a introdução de "causas impeditivas" que protejam o outro cônjuge e a família. Caso contrário, "reduz-se a instituição casamento à precariedade jurídica das uniões de facto e das suas consequências".