Diário de Notícias - 18 Jul 08

 

Editorial

Estes tempos exigem prudência nos gastos

 

As estatísticas da venda de carros no primeiro semestre contam-nos que os portugueses ainda estão a viver de uma forma perigosa, alheados da mais imprevisível das crises que levou o FMI a aconselhar os portugueses a baixar o seu nível de vida. De Janeiro a Junho foram vendidos 114 413 carros, mais 6,4% do que no mesmo período de 2007. Este crescimento, o quarto maior da UE, contrasta com as quedas registadas em Espanha (17,6%) e Itália (11,5%).

 

Olhando apenas para a venda de automóveis, surge-nos o retrato mentiroso de um país que prospera, e não o país real em que o governador do Banco de Portugal foi ao Parlamento rever em baixa as previsões de crescimento.

 

Mas o estado real da nação revela-se numa outra estatística. Os portugueses estão a comprar menos casas. Apesar de não haver um mercado de arrendamento sério, no primeiro trimestre os contratos para a compra de habitação cairam 6,2%, para 31 795.

 

A contradição entre o aumento da compra de carros e a queda da venda de casas é apenas aparente.

 

Aterrorizados com a quantidade de casas que lhe caem nos braços, os bancos apertaram a torneira do crédito à habitação. É a adopção desta política mais restritiva que explica o abrandamento do mercado imobiliário. Os portugueses não estão a comprar mais casas porque não podem. Os portugueses continuam alegremente a comprar mais carros, férias, iPhones e plasmas porque ainda lhes emprestam dinheiro.

 

Como não há maneira legal de restringir a febre do crédito ao consumo, alguém, de preferência o primeiro-ministro, devia aconselhar os portugueses a interiorizar que vivemos tempos difíceis e por isso têm de ser prudentes nos gastos.