As estatísticas da venda de carros no primeiro
semestre contam-nos que os portugueses ainda estão a
viver de uma forma perigosa, alheados da mais
imprevisível das crises que levou o FMI a aconselhar
os portugueses a baixar o seu nível de vida. De
Janeiro a Junho foram vendidos 114 413 carros, mais
6,4% do que no mesmo período de 2007. Este
crescimento, o quarto maior da UE, contrasta com as
quedas registadas em Espanha (17,6%) e Itália
(11,5%).
Olhando apenas para a venda de automóveis, surge-nos
o retrato mentiroso de um país que prospera, e não o
país real em que o governador do Banco de Portugal
foi ao Parlamento rever em baixa as previsões de
crescimento.
Mas o estado real da nação revela-se numa outra
estatística. Os portugueses estão a comprar menos
casas. Apesar de não haver um mercado de
arrendamento sério, no primeiro trimestre os
contratos para a compra de habitação cairam 6,2%,
para 31 795.
A contradição entre o aumento da compra de carros e
a queda da venda de casas é apenas aparente.
Aterrorizados com a quantidade de casas que lhe caem
nos braços, os bancos apertaram a torneira do
crédito à habitação. É a adopção desta política mais
restritiva que explica o abrandamento do mercado
imobiliário. Os portugueses não estão a comprar mais
casas porque não podem. Os portugueses continuam
alegremente a comprar mais carros, férias, iPhones e
plasmas porque ainda lhes emprestam dinheiro.
Como não há maneira legal de restringir a febre do
crédito ao consumo, alguém, de preferência o
primeiro-ministro, devia aconselhar os portugueses a
interiorizar que vivemos tempos difíceis e por isso
têm de ser prudentes nos gastos.