No jantar após o recente debate parlamentar, o
senhor primeiro-ministro afirmou: «Eu sou de um
partido onde era absolutamente impossível que um
líder pudesse dizer que o principal objectivo da
família é a procriação. Aqui no PS não temos essas
frases porque elas são pré-modernas, e como já
alguém disse, parece-me até que são pré-Concílio
Vaticano II» (RR, 11/Julho, 2:23). De facto, ele
nunca diria isso. Aliás, este executivo é o primeiro
que, no seu Programa de Governo aprovado em 2005,
não incluiu uma secção sobre os problemas da família
ou menção sobre a grave decadência demográfica de
Portugal.
Influenciado por ideologias obsoletas, o Governo
manifesta total ignorância sobre isto. Enfrenta já
alguns dos seus efeitos, como o envelhecimento, a
crise da segurança social, imigração, insucesso
escolar, marginalidade, crime, desemprego,
desertificação, divórcio, solidão. Até foi obrigado
a arranjar à pressa uns apoios à natalidade que além
de inúteis são quase patéticos.
Mas não consegue entender aquilo que ensinam todos
os autores sérios de Sociologia, Demografia,
Economia e Ciência Política, que a crise da família
é a principal causa comum de todos estes problemas e
são necessárias medidas rápidas e inteligentes para
lidar com algo que, sendo de enorme complexidade,
pode destruir a cultura, sociedade e economia
portuguesas.
Entretanto, com ligeireza inacreditável, o senhor
primeiro-ministro prefere tratar estas coisas como
antiquadas ou religiosas. Na sua cegueira, até se
orgulha do que será a maior crítica que o futuro lhe
fará.