Inflação na zona euro atinge quatro por cento e
bate recorde dos últimos 16 anos
As campainhas de alarme soaram em Bruxelas. Reina a
inquietação entre os responsáveis máximos europeus,
depois de o Eurostat ter revelado que a inflação na
zona euro foi de 4 por cento em Junho, depois dos
3,7 por cento registados em Maio.
O valor avançado ontem pelo gabinete de estatísticas
da União Europeia, que constitui ainda uma primeira
estimativa do andamento dos preços no mês que ontem
terminou, é o mais alto dos últimos 16 anos.
"Profunda preocupação" é o termo utilizado pelo
comissário europeu para os Assuntos Económicos,
Joaquín Almunia, para caracterizar a situação. E a
porta-voz da Comissão Europeia, Amélia Torres, saiu
a terreiro para defender que é fundamental evitar-se
entrar numa espiral de subidas de preços e salários
que iria dinamitar o crescimento económico.
As razões para este clima de grande ansiedade são
reais. Mais inflação significa que o Banco Central
Europeu terá de subir as suas taxas de referência e
isso penaliza as famílias que recorrem ao crédito
para adquirir uma habitação e as empresas que
pretendem investir, mas vêem o preço do dinheiro bem
mais caro.
Menor liquidez no mercado imobiliário e mais
dificuldades para as empresas investirem prenunciam
mais obstáculos à retoma económica que a Europa
tanto persegue. E aí se entendem as declarações do
presidente do Governo espanhol, que reivindica maior
flexibilidade da parte do BCE - que tem como
principal missão velar para que a inflação não
ultrapasse os dois por cento.
José Luis Zapatero teme, justamente, que novas
subidas das taxas de referência do banco central
minem os esforços de relançamento económico,
particularmente em Espanha, onde há uma evidente
desaceleração da actividade produtiva e, em
particular, do mercado imobiliário, que sustentou
níveis de desenvolvimento muito relevantes nos
últimos anos.
A tese de Zapatero tem sentido. O líder espanhol diz
que este andamento da inflação não tem a ver com um
aumento da procura e do consumo, é antes reflexo da
escalada do preço do petróleo e dos bens
alimentares. E que, neste quadro, subir as taxas de
juros e apertar o crédito não irá atacar os males de
que padecem os preços. J.M.