Público  - 01 Jul 08

 

Outros alertas do relatório anual
Catarina Gomes

 

Metade dos doentes prioritários esperam mais de 120 dias por tratamento

 

Ano e meio para dar resposta a 20 mil pessoas

 

Para que o Ministério da Saúde cumpra os objectivos fixados, até ao final de 2009 o programa das listas de espera para cirurgias terá de dar resposta a 20 mil doentes não prioritários que esperam por uma cirurgia há mais de 12 meses. Terá de se conseguir que, pelo menos, as sete situações prioritárias (cirurgia maxilofacial, cirurgia vascular, estomatologia, neurocirurgia, ortopedia, otorrinolaringologia e urologia) diminuam os tempos máximos de espera até 120 dias. Deverá ganhar-se 22 dias, em média, ao tempo máximo de espera para a cirurgia dos tumores malignos.

 

Actualmente, 52 por cento dos doentes considerados prioritários para uma intervenção cirúrgica aguardam mais de 120 dias por tratamento.

 

Quanto às metas para 2007, verificou-se que, relativamente à doença oncológica e à doença cardiotorácica, os hospitais da Administração Regional de Saúde do Centro foram os que mais se aproximaram das prioridades fixadas. O relatório considera que "a espera cirúrgica teve nos últimos anos uma evolução francamente favorável", tanto que os investigadores dizem que vão passar a dar mais atenção à espera para consultas externas hospitalares.

 

Unidose e risco de falsificação

 

As primeiras farmácias hospitalares a abrir ao público, previstas para este ano, irão poder vender medicamentos em unidose - isto, é a dispensa pode ser feita avulso consoante as necessidades de tratamento do doente e não em embalagens tipo. O relatório do Observatório Português dos Sistemas de Saúde alerta para a necessidade de esta dispensa continuar a ser acompanhada por folheto informativo, independentemente da quantidade dispensada.

 

O documento alerta ainda para o risco de falsificação de medicamentos associados à unidose. Quanto às vantagens esperadas desta medida, "supostamente centradas na redução de desperdícios, importaria qualificá-las em estudos sólidos em bem desenhados", sublinha-se. O documento acrescenta ainda que seria útil comparar os benefícios desta medida com "outras causas reais de desperdício": a falta de adesão à terapêutica e seus motivos, a prescrição inadequada e a falta de apoio no uso do medicamento e no controlo de eventuais efeitos adversos, enuncia o relatório.

 

Poucos enfermeiros

 

Apesar de o desemprego ser um dos problemas que preocupam a classe de enfermagem - a oferta actual de licenciados é maior do que a procura -, Portugal não tem excesso de enfermeiros.

 

Pelo contrário, os números referidos no relatório apontam para um dos mais baixos valores na relação entre estes profissionais e a população: contabilizando enfermeiros e parteiras (que em Portugal também são enfermeiros) diz-se que no país há 47 destes profissionais por 10 mil habitantes, um valor que na lista da União a 27 só é inferior na Bulgária (46), na Roménia (42), em Chipre (40) e na Grécia (36). No período em análise (2000-2006), Portugal tinha o quinto pior registo dos países da União Europeia, o que significa que permanece ainda muito afastado da melhor cobertura, atingida na Holanda (146).

 

Quanto ao número de médicos por habitante este tem vindo a aumentar, embora continue muito afastado - 34 por 10 mil habitantes - do valor mais elevado da União Europeia detido por Chipre (333) e seguido pela Grécia (50). Portugal está assim afastado da média, o que se reflecte depois num rácio de enfermeiros/parteiras e médicos relativamente baixo: o terceiro pior valor da União.

 

Quanto ao rácio do número de camas de hospital por 10 mil habitantes, Portugal apresenta um valor igualmente baixo face aos restantes países da União Europeia: 37 camas por 10 mil habitantes, só acima de Espanha (34) e bastante longe da Alemanha (83). O relatório explica que este valor português pode ser parcialmente explicado pelo aumento dos cuidados de saúde prestados sem recurso ao internamento.