Público última hora - 01 Jul 08

 

Euribor passa os cinco por cento e agrava crédito à habitação
Rosa Soares

 

Juros já estão em máximos de oito anos. Num empréstimo à habitação de 150 mil euros, a prestação com a casa aumentou 17 euros face a Maio

 

É mais uma má notícia para as famílias com crédito à habitação. As médias de Junho das taxas Euribor voltam a revelar aumentos muito elevados - com os prazos de seis e 12 meses a ultrapassar a barreira dos cinco por cento -, o que vai agravar as prestações a partir de Julho para quem tem renovações de contratos e para quem está a fazer novos empréstimos.

 

As Euribor estão agora em máximos de 2000 e a tendência é de que aumentem ainda mais. Porquê? A inflação da zona euro referente a Junho (ver texto ao lado) divulgada ontem mostra uma substancial subida dos preços que torna muito difícil ao Banco Central Europeu (BCE) não voltar a aumentar a sua principal taxa de juro de referência durante a reunião da próxima quinta-feira.

 

O mercado já está, aliás, preparado e a antecipar uma subida das taxas por parte do BCE, actualmente nos quatro por cento, até porque a autoridade monetária da zona euro se encontra numa encruzilhada: a subida galopante da inflação obriga-a a subir taxas; a desaceleração da economia europeia aconselhava-a a descer.
Neste impasse, o mercado monetário, onde os bancos emprestam dinheiro entre si e onde se fixa diariamente a Euribor, vai continuando a reflectir a incerteza económica e a antecipar novas subidas para além da que se espera seja anunciada depois de amanhã.

 

A Euribor a seis meses, o prazo mais utilizado nos empréstimos em Portugal, fechou o mês de Junho nos 5,088 por cento, mais 0,191 pontos percentuais que os 4,897 por cento com que tinha terminado em Maio. A Euribor a 12 meses, que reflecte a tendência de mais longo prazo, foi a que mais disparou, atingindo os 5,361 por cento. Juntamente com a Euribor a seis meses, a Euribor a 12 meses quebrou a barreira dos cinco por cento e registou um agravamento de 0,367 pontos percentuais face aos 4,994 por cento que tinha atingido em Maio. Por último, a Euribor a três meses, um prazo que tem tido uma utilização crescente por parte dos bancos, registou a menor variação, de 0,084 pontos percentuais, para os 4,941, mas também já muito próximo dos cinco por cento.

 

A última sessão diária do mês de Junho evidencia a tendência de subida. O mercado monetário já estava fechado quando foi divulgada a inflação, pelo que ainda não incorporou esse dado, e mesmo assim a Euribor a seis e a 12 meses subiu, atingindo respectivamente os 5,130 e 5,390 por cento, mantendo-se estabilizada a de três meses nos 4,947 por cento.

 

Mais 320 euros desde 2005

 

O aumento do custo dinheiro torna-se mais evidente a partir de uma simulação, como a que foi feita para o PÚBLICO pela Deco/Proteste.

 

Num empréstimo de 150 mil euros, a 25 anos, utilizando a Euribor a seis meses, acrescida de um spread (margem do banco) de 0,7 por cento, há um agravamento de 17 euros com a utilização da média de Junho face ao valor do mesmo indexante em Maio.

 

A prestação desse empréstimo atinge os 947,11 euros com a média de Junho, valor que em Maio passado era de 929,84 euros. Com a média de Junho, mas de há um ano atrás, a prestação mensal é menor em 71 euros.
Se o cálculo da prestação for feito para o valor da Euribor a seis meses de Março de 2005, altura em que as taxas estavam historicamente baixas, a diferença é ainda mais expressiva, da ordem dos 320 euros mensais, dado que o mesmo empréstimo implicava uma prestação de 623,70 euros.

 

Depois dos valores historicamente baixas que atingiram nos primeiros meses de 2005, em que encostaram nos dois por cento, as taxas Euribor estão agora muito perto dos máximos de Outubro de 2000, ano em que os prazos de seis e doze meses ultrapassaram os 5,2 por cento.

 

O aumento dos prazos dos contratos à habitação e a negociação de períodos de carência de capital ou de diferimento de capital são soluções a que os portugueses têm recorrido para diminuir a prestação.

 

A contagem de juros nos empréstimos e nos depósitos passou desde ontem a ter como base 360 dias, como determina o Decreto-Lei 88/2008. A medida é positiva para um conjunto de clientes com empréstimos à habitação, uma vez que permite o regresso à utilização da Euribor a 360 dias, ligeiramente mais baixa que a utilizada há mais de um ano pela maioria dos bancos, que era a de 365 dias. Para os depósitos, se as taxas de remuneração não baixarem, a alteração também é positiva. O Decreto-Lei 88/2008 veio corrigir uma situação criada por um diploma anterior, que impôs a contagem de juros a 365 dias. Só o BPI e o Montepio decidiram não aplicar os 365 dias e esperar pela correcção. Para a maioria dos detentores de empréstimos esta alteração vai minimizar a subida da taxa de juro em Junho.