Euribor passa os cinco por cento e agrava crédito
à habitação Rosa Soares
Juros já estão em máximos de oito anos. Num
empréstimo à habitação de 150 mil euros, a prestação
com a casa aumentou 17 euros face a Maio
É mais uma má notícia para as famílias com crédito à
habitação. As médias de Junho das taxas Euribor
voltam a revelar aumentos muito elevados - com os
prazos de seis e 12 meses a ultrapassar a barreira
dos cinco por cento -, o que vai agravar as
prestações a partir de Julho para quem tem
renovações de contratos e para quem está a fazer
novos empréstimos.
As Euribor estão agora em máximos de 2000 e a
tendência é de que aumentem ainda mais. Porquê? A
inflação da zona euro referente a Junho (ver texto
ao lado) divulgada ontem mostra uma substancial
subida dos preços que torna muito difícil ao Banco
Central Europeu (BCE) não voltar a aumentar a sua
principal taxa de juro de referência durante a
reunião da próxima quinta-feira.
O mercado já está, aliás, preparado e a antecipar
uma subida das taxas por parte do BCE, actualmente
nos quatro por cento, até porque a autoridade
monetária da zona euro se encontra numa
encruzilhada: a subida galopante da inflação
obriga-a a subir taxas; a desaceleração da economia
europeia aconselhava-a a descer.
Neste impasse, o mercado monetário, onde os bancos
emprestam dinheiro entre si e onde se fixa
diariamente a Euribor, vai continuando a reflectir a
incerteza económica e a antecipar novas subidas para
além da que se espera seja anunciada depois de
amanhã.
A Euribor a seis meses, o prazo mais utilizado nos
empréstimos em Portugal, fechou o mês de Junho nos
5,088 por cento, mais 0,191 pontos percentuais que
os 4,897 por cento com que tinha terminado em Maio.
A Euribor a 12 meses, que reflecte a tendência de
mais longo prazo, foi a que mais disparou, atingindo
os 5,361 por cento. Juntamente com a Euribor a seis
meses, a Euribor a 12 meses quebrou a barreira dos
cinco por cento e registou um agravamento de 0,367
pontos percentuais face aos 4,994 por cento que
tinha atingido em Maio. Por último, a Euribor a três
meses, um prazo que tem tido uma utilização
crescente por parte dos bancos, registou a menor
variação, de 0,084 pontos percentuais, para os
4,941, mas também já muito próximo dos cinco por
cento.
A última sessão diária do mês de Junho evidencia a
tendência de subida. O mercado monetário já estava
fechado quando foi divulgada a inflação, pelo que
ainda não incorporou esse dado, e mesmo assim a
Euribor a seis e a 12 meses subiu, atingindo
respectivamente os 5,130 e 5,390 por cento,
mantendo-se estabilizada a de três meses nos 4,947
por cento.
Mais 320 euros desde 2005
O aumento do custo dinheiro torna-se mais evidente a
partir de uma simulação, como a que foi feita para o
PÚBLICO pela Deco/Proteste.
Num empréstimo de 150 mil euros, a 25 anos,
utilizando a Euribor a seis meses, acrescida de um
spread (margem do banco) de 0,7 por cento, há um
agravamento de 17 euros com a utilização da média de
Junho face ao valor do mesmo indexante em Maio.
A prestação desse empréstimo atinge os 947,11 euros
com a média de Junho, valor que em Maio passado era
de 929,84 euros. Com a média de Junho, mas de há um
ano atrás, a prestação mensal é menor em 71 euros.
Se o cálculo da prestação for feito para o valor da
Euribor a seis meses de Março de 2005, altura em que
as taxas estavam historicamente baixas, a diferença
é ainda mais expressiva, da ordem dos 320 euros
mensais, dado que o mesmo empréstimo implicava uma
prestação de 623,70 euros.
Depois dos valores historicamente baixas que
atingiram nos primeiros meses de 2005, em que
encostaram nos dois por cento, as taxas Euribor
estão agora muito perto dos máximos de Outubro de
2000, ano em que os prazos de seis e doze meses
ultrapassaram os 5,2 por cento.
O aumento dos prazos dos contratos à habitação e a
negociação de períodos de carência de capital ou de
diferimento de capital são soluções a que os
portugueses têm recorrido para diminuir a prestação.
A contagem de juros nos empréstimos e nos depósitos
passou desde ontem a ter como base 360 dias, como
determina o Decreto-Lei 88/2008. A medida é positiva
para um conjunto de clientes com empréstimos à
habitação, uma vez que permite o regresso à
utilização da Euribor a 360 dias, ligeiramente mais
baixa que a utilizada há mais de um ano pela maioria
dos bancos, que era a de 365 dias. Para os
depósitos, se as taxas de remuneração não baixarem,
a alteração também é positiva. O Decreto-Lei 88/2008
veio corrigir uma situação criada por um diploma
anterior, que impôs a contagem de juros a 365 dias.
Só o BPI e o Montepio decidiram não aplicar os 365
dias e esperar pela correcção. Para a maioria dos
detentores de empréstimos esta alteração vai
minimizar a subida da taxa de juro em Junho.