O futuro
previsível da sociedade ondulante
João César das Neves
Como será a sociedade daqui a 30 ou 50 anos? Todos
sabem que terá menos casamentos e mais divórcios,
menos fumadores e mais drogados. Haverá menos
religião, mais abortos, eutanásia, bebés-proveta,
pornografia, prostituição, etc. Estas ideias são
consensuais. Alguns lamentam, outros aplaudem, mas
todos aceitam. Porquê? Afinal, elas baseiam-se em
três métodos de previsão que, embora populares,
sempre falharam redondamente.
O principal é a extrapolação linear: se a evolução
recente vai num sentido, devemos prolongá-lo. Foi
com esta lógica que se apregoou que hoje todo o
mundo seria comunista ou americano, muçulmano,
hippie ou deserto. Assim se previu que os mercados
dominariam tudo ou desapareceriam na fúria
colectivista, se decretou a extinção próxima de
cafés, livros, teatros, jornais, telefones. Pelo
contrário, a História mostra que a ondulação dos
hábitos é tudo menos recta. Mas a tentação de
estender uma tendência até ao absurdo parece
invencível.
Os outros métodos comuns de previsão são ainda mais
frágeis. O mais popular é seguir as opiniões dos
jovens que, como sabemos, são o futuro. Nunca se viu
ninguém que no futuro fosse mais jovem. A única
certeza é que todos vão envelhecer e mudarão as
opiniões. Afinal os actuais idosos retrógrados já
foram novos e também eram rebeldes. Dadas as
tendências demográficas, o futuro será mesmo dos
velhos.
Finalmente, o método mais tolo é usar as teses das
forças que se auto-apelidam de progressistas. Há
séculos que intelectuais e movimentos, sobretudo
aberrantes, julgam determinar o futuro, apesar das
provas em contrário. Aliás esses grupos só chegaram
às causas actuais depois do falhanço das anteriores.
Se estes métodos falham, como fazer antevisões
razoáveis? Recusar essas tolices é um primeiro
passo. Depois deve-se respeitar o futuro, que sempre
será remoto. Existem ainda duas ideias simples que
podem dar uma ajuda. A primeira é que, em geral, a
lógica e sensatez acabam por vencer os embustes e
parvoíces. A humanidade, por vezes, com grande
atraso, destrona sempre as muitas asneiras que
ergue.
Ora o consenso actual inclui enormes disparates,
sendo obsessivo nuns temas e displicente noutros.
Por que razão o fumador é agredido como criminoso,
enquanto o drogado é considerado doente? Se o vício
é tão poderoso num como noutro, e as consequências
laterais são muito piores no segundo, qual o motivo
de tratar o fumo com ameaças mas acarinhar e tolerar
a droga? Porque se testa a alcoolemia nos condutores
e não os estupefacientes?
Como estes, muitos outros mitos da propaganda actual
acabarão eliminados mais cedo ou mais tarde. As
ideias de que o divórcio liberta, de que aborto e
eutanásia são aceitáveis, de que todas as formas de
família são equivalentes vão desaparecer. Tal como a
promoção de infâmias, pornografia e prostituição, em
nome da liberdade. A sociedade faz campanhas contra
o racismo e campanhas contra o fundamentalismo, que
promovem novos racismos.
No extremo oposto a existência de graves situações
de agressão e perseguição a homossexuais, que têm de
ser punidas e combatidas, não justifica que se viole
a liberdade de opinião, acusando de homofobia quem
não aceite essa prática como "orientação" natural.
Será que os fumadores se podem queixar de
tabacofobia? Também inventar novos tipos de
casamento em nome da igualdade é tolice. Todos podem
casar livremente, ninguém com pessoas do mesmo sexo.
Onde está a desigualdade? Casamento sempre foi entre
homem e mulher, mesmo nas culturas que exaltaram a
homossexualidade. E como é possível que o tempo que
mais defende a natureza permita à ciência as mais
terríveis manipulações da mesma, logo na sua
manifestação suprema, a geração da vida humana?
Os animais são protegidos, só os embriões são
explorados.
A outra ideia que ajuda a uma previsão razoável é
que a sociedade, eliminando os erros actuais, estará
sempre pronta a criar novas tolices ou a ressuscitar
velhos embustes e parvoíces. Até a mitologia
regressou na New Age. Também aqui a ondulação é a
regra.