Diário de Notícias - 16 Jul 07

 

O futuro previsível da sociedade ondulante
João César das Neves

Como será a sociedade daqui a 30 ou 50 anos? Todos sabem que terá menos casamentos e mais divórcios, menos fumadores e mais drogados. Haverá menos religião, mais abortos, eutanásia, bebés-proveta, pornografia, prostituição, etc. Estas ideias são consensuais. Alguns lamentam, outros aplaudem, mas todos aceitam. Porquê? Afinal, elas baseiam-se em três métodos de previsão que, embora populares, sempre falharam redondamente.

O principal é a extrapolação linear: se a evolução recente vai num sentido, devemos prolongá-lo. Foi com esta lógica que se apregoou que hoje todo o mundo seria comunista ou americano, muçulmano, hippie ou deserto. Assim se previu que os mercados dominariam tudo ou desapareceriam na fúria colectivista, se decretou a extinção próxima de cafés, livros, teatros, jornais, telefones. Pelo contrário, a História mostra que a ondulação dos hábitos é tudo menos recta. Mas a tentação de estender uma tendência até ao absurdo parece invencível.

Os outros métodos comuns de previsão são ainda mais frágeis. O mais popular é seguir as opiniões dos jovens que, como sabemos, são o futuro. Nunca se viu ninguém que no futuro fosse mais jovem. A única certeza é que todos vão envelhecer e mudarão as opiniões. Afinal os actuais idosos retrógrados já foram novos e também eram rebeldes. Dadas as tendências demográficas, o futuro será mesmo dos velhos.

Finalmente, o método mais tolo é usar as teses das forças que se auto-apelidam de progressistas. Há séculos que intelectuais e movimentos, sobretudo aberrantes, julgam determinar o futuro, apesar das provas em contrário. Aliás esses grupos só chegaram às causas actuais depois do falhanço das anteriores.

Se estes métodos falham, como fazer antevisões razoáveis? Recusar essas tolices é um primeiro passo. Depois deve-se respeitar o futuro, que sempre será remoto. Existem ainda duas ideias simples que podem dar uma ajuda. A primeira é que, em geral, a lógica e sensatez acabam por vencer os embustes e parvoíces. A humanidade, por vezes, com grande atraso, destrona sempre as muitas asneiras que ergue.

Ora o consenso actual inclui enormes disparates, sendo obsessivo nuns temas e displicente noutros. Por que razão o fumador é agredido como criminoso, enquanto o drogado é considerado doente? Se o vício é tão poderoso num como noutro, e as consequências laterais são muito piores no segundo, qual o motivo de tratar o fumo com ameaças mas acarinhar e tolerar a droga? Porque se testa a alcoolemia nos condutores e não os estupefacientes?

Como estes, muitos outros mitos da propaganda actual acabarão eliminados mais cedo ou mais tarde. As ideias de que o divórcio liberta, de que aborto e eutanásia são aceitáveis, de que todas as formas de família são equivalentes vão desaparecer. Tal como a promoção de infâmias, pornografia e prostituição, em nome da liberdade. A sociedade faz campanhas contra o racismo e campanhas contra o fundamentalismo, que promovem novos racismos.

No extremo oposto a existência de graves situações de agressão e perseguição a homossexuais, que têm de ser punidas e combatidas, não justifica que se viole a liberdade de opinião, acusando de homofobia quem não aceite essa prática como "orientação" natural. Será que os fumadores se podem queixar de tabacofobia? Também inventar novos tipos de casamento em nome da igualdade é tolice. Todos podem casar livremente, ninguém com pessoas do mesmo sexo. Onde está a desigualdade? Casamento sempre foi entre homem e mulher, mesmo nas culturas que exaltaram a homossexualidade. E como é possível que o tempo que mais defende a natureza permita à ciência as mais terríveis manipulações da mesma, logo na sua manifestação suprema, a geração da vida humana?

Os animais são protegidos, só os embriões são explorados.

A outra ideia que ajuda a uma previsão razoável é que a sociedade, eliminando os erros actuais, estará sempre pronta a criar novas tolices ou a ressuscitar velhos embustes e parvoíces. Até a mitologia regressou na New Age. Também aqui a ondulação é a regra.