Portugal Diário - 3 Jul 06

Penalizar hotéis que recusam crianças

O presidente da Associação dos Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve (AHETA) apelou hoje às autoridades competentes que actuem nas situações em que as crianças sejam impedidas de frequentar unidades hoteleiras. A notícia é avançada pela Agência Lusa.

«Se há uma lei para aplicar, as autoridades que apliquem a lei», disse Elidérico Viegas, lamentando que a notícia de uma unidade hoteleira que não cumpre a legislação quanto à aceitação de crianças possa «manchar a imagem da região» ou ser aproveitada para isso pelos destinos turísticos concorrentes.

O responsável reagia a uma notícia da Lusa, no sábado, sobre a queixa de Isabel Carneiro, que se deparou com a proibição de entrada de crianças quando se preparava para efectuar a reserva numa quinta de turismo rural situada perto de Tavira.

«Quando disse que eram três pessoas, dois adultos e uma criança, responderam que não aceitam crianças», contou a queixosa à Lusa.

A atitude seria depois justificada à cliente, que acabou por desistir das férias, com uma decisão da gerência após ter recebido reclamações contra o barulho provocado por crianças.

Um responsável da Associação de Defesa dos Consumidores Deco, Luís Pisco, referiu sábado que o Algarve é a região do País em que mais acontecem aqueles casos, que considerou ilegais e «uma violação dos mais elementares direitos constitucionais das crianças».

Em declarações à Lusa, Elidérico Viegas garantiu que, em todo o Algarve, apenas tem conhecimento de um caso em que isso acontece - a unidade de turismo rural Quinta da Lua, em Tavira - e lamentou que a Deco tenha «tomado a árvore pela floresta» ao revelar a existência de vários casos, que não especificou.

«O Algarve tem-se afirmado como um destino de famílias e temos feito um enorme esforço para cativar o segmento das famílias», disse o responsável pela principal associação hoteleira algarvia.

Por seu turno, o presidente da Região de Turismo do Algarve (RTA) acusou a DECO de «prestar um mau serviço» ao Algarve e de «grave falta à verdade» ao relatar a existência de vários hotéis que não aceitam crianças na região.

«Tanto quanto se sabe, e é relatado pelas próprias notícias, há um único caso em que isso acontece, numa unidade hoteleira rural de seis camas, pelo que é falso falar de vários casos», disse Hélder Martins à agência Lusa.

Hélder Martins asseverou que o Algarve «é um destino de famílias» e não se pode prejudicar uma região «a partir de um único caso isolado».

Entretanto, um dos proprietários da Quinta da Lua, Miguel Martins, garantiu à Lusa que nunca impediu a entrada de crianças naquele espaço rural, embora costume avisar os pais «que não se trata de um espaço adequado» para elas.

«Avisamos os clientes que a quinta não é o espaço ideal para crianças, não temos baloiços, é um sítio calmo adequado a pessoas que optaram pela tranquilidade para passar uns dias», disse.

Num primeiro contacto da Lusa, o responsável recusou comentar a situação sem saber o nome da queixosa.

De acordo com o co-proprietário (o sócio é um cidadão holandês) da quinta fundada em 2001 nos arredores de Tavira, já houve situações em que recebeu reclamações de clientes por causa do barulho feito pelas crianças e houve necessidade de chamar a atenção dos pais.

Contudo, asseverou que todos os anos recebe várias crianças, desde que os pais se disponibilizem para pagar um quarto para elas.

«O problema é que muitos pais não querem pagar pelos filhos e esperam que ponhamos camas extra nos quartos, o que não fazemos a não ser que sejam bebés, porque temos um berço», disse, frisando que, caso os clientes o requeiram, não levantam quaisquer obstáculos ao aluguer de mais um quarto para as crianças.

Miguel Martins considerou «irónico» que, há dois anos atrás, a revista da Caixa Geral de Depósitos tenha feito uma reportagem sobre a Quinta da Lua com o título «Fim-de-semana com os Filhos».