Malparado das famílias acima de 3 mil milhões Paula Cordeiro
Evolução do crédito. De mês para mês, agrava-se a
situação de muitas famílias no cumprimento das suas
obrigações perante a banca. O malparado aumenta
substancialmente nos empréstimos à habitação
Dívidas da habitação crescem 25% até Novembro
As dívidas dos particulares à banca avolumam-se de
mês para mês, tendo já ultrapassado os três mil
milhões de euros, em Novembro último. No crédito à
habitação, os empréstimos em cobrança duvidosa
aumentaram 25% face a igual mês de 2007 e no crédito
ao consumo o volume em dívida cresceu 50% no mesmo
período, de acordo com o Boletim Estatístico de
Janeiro do Banco de Portugal, ontem divulgado.
O crédito malparado existente nos bancos a operar em
Portugal, proveniente de empréstimos a particulares,
continua a crescer a ritmos elevados, numa altura em
que a concessão de crédito dá mostras de franco
abrandamento. Sinais de uma crise definitivamente
instalada no seio de muitas famílias.
Até Novembro, o total de crédito concedido aos
particulares tinha crescido 4,4%, face ao mesmo
período do ano anterior, atingindo do 132,8 mil
milhões de euros. Mas, enquanto o saldo crescia a
este valor, os montantes de cobrança duvidosa
disparavam 28,2%, ultrapassando pela primeira vez os
três mil milhões de euros.
Face ao volume total, o rácio de incumprimento é
agora de 2,2%, um aumento de 22% face ao mesmo rácio
de Novembro de 2007, que era de 1,8%.
Na habitação, o crédito em dívida atinge níveis
preocupantes, especialmente tendo em conta que se
tratam de créditos hipotecários, ou seja, em caso de
incumprimento prolongado é a própria habitação que é
perdida.
Num cenário de abrandamento na concessão de
empréstimos - crédito à habitação cresceu 4,1% até
Novembro, em termos homólogos, atingindo os 105 mil
milhões de euros - os montantes de cobrança duvidosa
cresceram 24,8%, no período em análise, somando 1,6
mil milhões de euros. Com este aumento, o rácio de
malparado passou de 1,2% em Novembro de 2007, para
1,5% em igual mês do ano passado, um aumento de 25%.
Nos empréstimos destinados a financiar o consumo, os
montantes em dívida já representavam, no mês em
análise, 5,2 % do total concedido para este efeito.
Há um ano, o mesmo rácio era de 3,9%, traduzindo-se
assim num aumento de 33%.
Embora mantendo taxas de crescimento mais elevadas,
os empréstimos à compra de automóveis, bens para o
lar ou mesmo viagens apresentam algum abrandamento
na sua evolução, crescendo 12,8% até Novembro, para
os 15,2 mil milhões de euros. Já os montantes em
situação de incumprimento dispararam, em termos
absolutos, 49,3%, somando quase 800 milhões de euros
em dívidas.
Dívidas de empresas disparam
No que respeita ao crédito concedido pela banca às
empresas a operar em Portugal, verifica-se um
aumento de 10,8% até Novembro, com estes empréstimos
a totalizar 111,5 mil milhões de euros.
No entanto, também as empresas apresentam maiores
dificuldades no cumprimento das suas
responsabilidades de crédito perante a banca. Até
Novembro, o total de cobrança duvidosa já somava 2,6
mil milhões de euros, mais 56,2% que em igual mês do
ano passado. E este aumento levou a uma deterioração
do rácio relativamente ao total concedido, passando
de 1,7% em 2007, para 2,3% em Novembro do ano
passado, mais 35,2%.