Diário de Notícias - 08 Jan 09

 

Dívidas levam mais de 2 mil famílias a pedir ajuda à Deco
Paula Cordeiro

 

Auxílio. O número de pessoas sobreendividadas continua a aumentar em Portugal. Em 2008, foram 2034 os processos iniciados pela Deco. O desemprego, problemas de saúde e divórcio são as três principais causas que levam as famílias a não cumprirem as suas obrigações financeiras

 

Créditos em espiral estão na origem das dificuldades

 

O número de sobreendividados não pára de aumentar. Em 2008, foram 2034 as famílias com dificuldades em pagar os seus créditos à banca, que pediram ajuda à Deco - Associação de Defesa do Consumidor.

 

De acordo com os dados do Gabinete de Apoio ao Sobreendividado (GAS) daquela entidade, este número corresponde a um aumento de cerca de 3% face ao número de processos entrados no ano anterior. Recorde-se que 2007 se tinha registado um valor recorde, com os pedidos de auxílio a mais que duplicar face a 2006. No total, desde 2000, ano em que a Deco arrancou com estes gabinetes, já foram abertos 7512 processos de sobreendividamento.

 

O desemprego continua a ser a principal causa na origem das dificuldades económicas destas famílias, com 53% do total dos processos entrados na Deco. Em segundo lugar surgem os problemas de saúde (18%), seguidos das alterações no agregado familiar (15%). Tratam-se dos chamados três "D" identificados pelos especialistas (desemprego, doença e divórcio) que justificam mais de 80% dos casos de sobreendividamento.

 

Uma outra causa que ganhou um certo relevo em 2008 foi o agravamento do custo de crédito, como salientou ao DN Natália Nunes, jurista da Deco, dando origem a 8% dos mais de dois mil processos entrados.

 

De entre as famílias sobreendividadas apoiadas pelo GAS, 60% possuíam entre três e dez créditos, enquanto 35% estão a pagar um a dois créditos. Existe ainda uma pequena percentagem de famílias sobreendividadas (5%) com mais de dez empréstimos em simultâneo. Estes dados mostram que o fenómeno do multiendividamento ou endividamento em espiral (contratação de novos créditos para pagar empréstimos em atraso) estão na origem de muitas dificuldades.

 

No que respeita ao rendimento auferido por estas famílias em dificuldades, 30% recebem entre mil e 1500 euros mensais, enquanto 29% apresentam rendimentos entre os 500 e os mil euros.

 

Apesar dos processos iniciados em 2008 terem aumentado 3%, os pedidos de informação chegados à Deco quase duplicaram face a 2007, atingindo os 8 758 pedidos.

 

Esta associação apenas ajuda, na negociação com os bancos, consumidores que estejam de boa-fé e com manifesta impossibilidade de fazer face ao conjunto das suas dívidas não profissionais.