Do nevoeiro de projecções em constante revisão e da
sua interpretação puxada por todos para onde mais
convém a cada um emerge uma imagem cada vez mais
nítida e contrastada daquilo que os portugueses
podem esperar do ano que agora começou. Com o mundo
desenvolvido mergulhado num recuo económico geral,
Portugal não poderia escapar e entrou em recessão
ainda no último trimestre de 2008: para que o
crescimento económico em 2008 se tenha ficado nos
0,3% (como calcula o Banco de Portugal, baseado em
dados parcelares dos últimos meses do ano), o
produto interno no 4.º trimestre deverá ter recuado
cerca de 1%! É com esta embalagem negativa que
entrámos em 2009.
No ano que temos pela frente não é prioridade
discutir a dimensão deste ou daquele aumento
salarial, da actualização adequada desta ou daquela
categoria de pensões. Com uma inflação prevista de
1%, a única componente da despesa que tem condições
de crescer em 2009 é o consumo das famílias.
Por isso, os problemas n.º 1, n.º 2 e n.º 3 de 2009
vão ser o de manter em laboração os cerca de 5,2
milhões de empregos do País. A grande ameaça - o
desemprego - pode bater à porta de meia centena de
trabalhadores. E a medida do êxito da política
anticíclica, com os seus sucessivos pacotes
sectoriais, vai medir-se - ao longo deste ano
recessivo - pela capacidade de reduzir ao mínimo a
destruição do emprego e não, por mais que isso
custe, pela criação de novos postos de trabalho. E
também, pelo acerto em apoiar aquelas empresas que,
ao sairmos desta crise, se mostrarem capazes de
puxar a economia nacional para uma aproximação à
Europa que nos anda a fugir há quase uma década.
Apesar do custo de vida mais elevado e da recente
quebra na cotação da libra, a Grã-Bretanha está a
atrair cada vez mais enfermeiros portugueses. Os
salários são mais altos que os praticados em
Portugal, mas sobretudo os hospitais britânicos
surgem como uma oportunidade de trabalho para os
2500 enfermeiros que estão desempregados. Com a
formação a colocar todos os anos no mercado de
trabalho mais 2500 novos enfermeiros, a realidade do
desemprego tenderá a tornar-se cada vez mais negra
para esta profissão, pelo que a emigração pode ser a
única saída para uma carreira.
Nada de errado existe nesta situação. Uma das
grandes vantagens da União Europeia é a
possibilidade de cidadãos de um Estado membro
trabalharem noutro Estado membro. E mesmo ao nível
da sustentabilidade do sistema de saúde nacional,
existe superavit de enfermeiros, ao contrário do que
se passa com os médicos, onde a situação é de défice
e obriga mesmo à contratação de profissionais
estrangeiros. Mas o tal mercado livre que agora tão
bem funciona a favor de Portugal pode um dia causar
sustos. Por exemplo, se os médicos nacionais se
sentirem tentados pelo exterior. É um risco.