Qousque tandem, Correia de Campos,
abutere patientia nostra?
Esta frase de Cícero no seu discurso
contra Catalina ilustra o nosso humor acerca do
senhor ministro da saúde: até quando abusará da
paciência dos portugueses? Porque ou rimos ou
choramos amargamente.
As últimas declarações, divulgadas
hoje pela Lusa, sobre a aplicação da lei do aborto
são escandalosas e preocupantes:
1. "O aborto clandestino diminuiu":
um exercício de lógica elementar capta a falta de
sentido realístico do ministro Correia de Campos.
Partindo do que foi dito há um ano a esta parte,
podemos inferir o raciocínio das premissas agora
reveladas: A) O aborto é clandestino (argumento do
SIM durante a campanha para liberalizar o aborto);
B) O que é clandestino não pode ser conhecido nem
determinado (uma das razões mais repetidas para a
ausência de meios para conhecer e combater as causas
do aborto, que justificariam numa lógica
utilitarista a legalização do aborto); C) Eu sei que
o aborto clandestino diminuiu. Magnífica conclusão,
mas imperceptível do ponto de vista da razoabilidade.
Senhor ministro: se o aborto
diminuiu diga-nos em quanto e qual o actual nível!
2. "Não há a pretensão do Ministério
para de repente acabar com as situações
clandestinas". Como é aceitável num Estado de
Direito democrático que um elemento do Governo faça
tais declarações e se mantenha na impunidade?
Manterá o Primeiro-ministro um ministro que
abjectamente declara que não pretende acabar com o
aborto ou a fazê-lo vai ser devagarinho??? Para quê?
Para permitir às clínicas manter mais alguns anos de
lucros ilegais e imorais? Então, afinal em que
ficamos? Agora já o aborto clandestino não é um
terrível problema da sociedade portuguesa. Parece
agora mais evidente que o ministro, ao contrário do
que propagandeou, não queria acabar com o aborto mas
tão só promover o "negócio"
Senhor ministro: diga-nos então como
e quando tenciona acabar com o aborto clandestino.
Ao menos ficamos a saber.
3. Se o aborto já não é clandestino
em Portugal diga-nos, Senhor Ministro, os números
reais e verdadeiros do aborto em Portugal! É um
imperativo de justiça, baseado nas suas declarações
sobejamente conhecidas acerca desta questão. E mais.
É um direito das mulheres a quem feriu o corpo e o
coração oferendo-lhes o aborto.