Natalidade Terá havido menos três mil nascimentos o ano
passado
Bárbara Simões
Os primeiros dados disponíveis apontam para nova
diminuição dos nascimentos em 2007. Pelo segundo ano
consecutivo, o número de "testes do pezinho" cai de
forma significativa: em 2006 foram analisadas
105.125 amostras de sangue de recém-nascidos; no ano
que agora terminou não passaram de 102.095. De um
ano para o outro, houve menos 3030.
Os números foram ontem avançados ao PÚBLICO pelo
presidente da Comissão Nacional do Diagnóstico
Precoce, Rui Vaz Osório, que considera a situação
"muito grave para o país".
O Instituto Nacional de Estatística (INE) ainda não
divulgou o número de nados-vivos em 2007 (deverá
fazê-lo em Abril). Mas o "teste do pezinho" é, todos
os anos, um indicador bastante fiável das oscilações
da natalidade em Portugal.
O rastreio, que despista agora 24 doenças
hereditárias do metabolismo e o hipotiroidismo
congénito, chega à quase totalidade dos
recém-nascidos. E Rui Vaz Osório confirma que nada
faz suspeitar que no ano passado possa ter havido
uma quebra na taxa de cobertura do teste. "Prevê-se
que seja semelhante."
Traduzindo para números: em 2006, nasceram 105.449
crianças de mães residentes em Portugal (o número é
do INE); e o Instituto de Genética Médica Jacinto de
Magalhães, no Porto, que centraliza a análise das
amostras de sangue recolhido, nos primeiros dias de
vida, no calcanhar dos bebés, recebeu 105.125 fichas
(correspondentes a 99,7 por cento dos nascimentos).
A ter-se mantido a taxa de cobertura do rastreio, as
fichas enviadas em 2007 corresponderão a menos de
103 mil nados-vivos - um novo "pico" de baixa
natalidade, depois dos valores recordes de 2006,
quando nasceram menos quatro mil crianças que no ano
anterior e foram atingidos mínimos históricos. O
número médio de filhos por mulher em idade fértil
desceu então para 1,36 (2,1 é o apontado como
necessário para garantir a substituição de
gerações).
Também nessa altura o Instituto de Genética Médica
deu logo pela quebra: as fichas do "teste do pezinho"
recebidas iam pouco além das 105 mil, quando em 2005
tinham ultrapassado as 108.700.
Rui Vaz Osório não dispõe de dados que lhe permitam
explicar por que é que nascem cada vez menos
crianças (e as descidas são tão significativas), mas
arrisca dizer que a percepção que tem é a de que,
por muitas medidas que sejam tomadas, "o
problema-base mantém-se: as dificuldades
económicas".
A baixa natalidade justificou, no ano passado,
várias medidas por parte do Governo. Foi aprovado um
abono para grávidas, um reforço do abono de família
em função do número de filhos e a comparticipação
dos tratamentos de procriação medicamente assistida.
O tema esteve também presente em intervenções do
Presidente da República.
As estimativas mais recentes indicam que, nos
próximos 25 anos, o número de idosos poderá mais do
que duplicar o de portugueses com menos de 14 anos.