Diário de Notícias - 21 Jan 07

 

PSD dá "sinal" claro a favor do "não" à despenalização do aborto

Paula Sá

O obstetra do Hospital Cuf Descobertas João Paulo Malta foi o único no colóquio promovido pelo PSD para debater o referendo sobre o aborto que incentivou Marques Mendes assumir o que ficou patente naquela sala do Centro Cultural de Belém (CCB), de que o partido pende para o "não" a 11 de Fevereiro. "O seu partido deu o sinal, mas espero que seja menos ambivalente na defesa dos direitos humanos".

O colóquio organizado por Laurinda Alves, membro do movimentos Independentes pelo Não - que Marques Mendes tinha garantido ser "exercício cívico de esclarecimento dos cidadãos", de um partido que não toma posição oficial sobre a matéria -, foi completamente desequilibrado.

Nos três painéis de conferencistas, as vozes contra a despenalização da interrupção voluntária da gravidez "atabafaram" as dos que se foram bater por aquela alteração do Código Penal. A proporção era de um (pelo "sim") para três (pelo "não"). E a plateia era sobejamente hostil aos argumentos dos partidários da despenalização da IVG, entre os quais a socialista Maria de Belém Roseira, antiga ministra da Saúde do Governo de Guterres.

Marcelo Rebelo de Sousa, que se tem distanciado das iniciativas do PSD, também marcou presença, acompanhado por aquela que é a sua namorada de longa data, Rita Cabral. O que reforçou no CCB o clima tendencialmente favorável ao "não". O professor, que sabia que a sua presença tinha uma leitura, elogiou o facto de Marques Mendes de não ter vinculado o PSD a qualquer posição sobre "uma matéria de consciência", que não deve ser motivo de luta partidária. Disse ainda esperar que, seja qual for o resultado do referendo, nenhum partido reivindique vitórias. Um recado ao PS e ao próprio José Sócrates que se batem pela despenalização.

Uma das dúvidas que maior debate suscitou no colóquio, sobretudo entre os defensores da vida desde a concepção, foi a de saber como o PS regulamentará a prática da interrupção da gravidez caso o "sim" saia vitorioso a 11 de Fevereiro.

Maria de Belém, bem como todos os que falaram no mesmo sentido, disse esperar que sejam criados gabinetes de aconselhamento obrigatório e um período mínimo de reflexão sempre que uma mulher solicitar a IVG.

No plano jurídico, o bastonário da Ordem dos Advogados, Rogério Alves, outra voz que dirá "não" a 11 de Fevereiro, considerou estar-se perante uma liberalização do aborto.