Expresso - 20 Jan 07

 

Escolher a escola

João Carlos Espada
 

A Suécia - por vezes descrita como a mais social-democrata das sociedades europeias - já pratica o apoio do Estado à escolha da escola

 

Decorreu no passado sábado a segunda sessão dos Encontros dos Jerónimos, uma iniciativa da revista ‘Nova Cidadania’ e da Fundação Oliveira Martins promovida por uma comissão organizadora independente. À luz da filosofia geral do Estado garantia, apresentada e discutida na primeira sessão, este encontro debateu a sua possível aplicação ao “ensino obrigatório”.

A ideia geral do ‘Estado garantia’, uma expressão cunhada por Fernando Adão da Fonseca, é hoje conhecida: “O verdadeiro Estado social é um Estado garantia, na medida em que lhe compete garantir um mínimo de liberdade de escolha a todos os cidadãos. Quando um direito estiver em risco por falta de meios, o Estado garantia tem a obrigação de garantir os recursos económicos que possibilitem o exercício da liberdade protegida por esse direito”.

No domínio do ensino obrigatório, esta filosofia deveria conduzir a uma mudança importante: as famílias deveriam passar a poder escolher a escola, pública ou privada, e o financiamento seria feito pelo Estado de acordo com as escolhas das famílias. Todas as escolas que aceitassem um conjunto de regras passariam a concorrer directamente entre si para obter a preferência dos alunos e respectivas famílias.

Por coincidência, o mesmo tema esteve em debate na imprensa inglesa, na mesma semana do Encontro dos Jerónimos. O pretexto foi o facto de a anterior ministra da Educação trabalhista, Ruth Kelly, ter colocado dois dos seus filhos em escolas privadas. Surpreendentemente, ou talvez não, a generalidade da imprensa apoiou-a. Em editorial, ‘Financial Times’, ‘Daily Telegraph’ e ‘Times’ argumentaram que a escolha da escola devia passar a ser acessível a todos: “O sistema educativo do Estado é suposto apoiar as nossas crianças e não o contrário”, escreveu o ‘Financial Times’. E citou a experiência sueca:

“Na Suécia, o Estado paga às crianças que queiram frequentar escolas independentes, desde que estas cumpram certos padrões básicos, sejam abertas a todos e não cobrem propinas. Estas reformas, não surpreendentemente, também melhoraram o desempenho das escolas do Estado que enfrentam a concorrência” (‘A break for freedom’, FT, 9 de Janeiro de 2007).

Por outras palavras, a ideia da escolha da escola está hoje mais divulgada do que imaginam os seus opositores. E não envolve qualquer ameaça ao Estado social. Pelo contrário, faz cumprir verdadeiramente os propósitos do Estado social. Finalmente, é facilmente aplicável: a Suécia - por vezes descrita como a mais social-democrata das sociedades europeias - já a pratica.