Diário de Notícias - 04 Jan 07

 

Estado alemão está a investir milhões num novo babyboom

Carla Guerra em Berlim

 

A noite de fim de ano foi tensa e cheia de expectativa para os pais e funcionários de vários hospitais alemães. As habituais questões "é rapaz ou rapariga?" ou "é saudável?" foram substituídas por "a que horas nasceu?" É que da hora do nascimento dependia um subsídio generoso para todos pais de bebés nascidos a partir de dia 1 Janeiro. Consultórios médicos, hospitais e sites da internet foram inundados com questões de muitas mães querendo saber como prolongar a sua gravidez.

No hospital Vivantes, em Berlim, temendo o pior, os empregados que gozavam o feriado foram chamados à última da hora, por receio de uma avalanche de partos, contou ao DN uma funcionária. Mas o que tanto se receava, afinal, não aconteceu. Tanto na clínica Vivantes como no Charité, o maior hospital do mundo, ocorreram seis a sete nascimentos, um número considerado normal.

Toda esta euforia gira em torno da nova legislação que entrou em vigor às 00.00 de dia 1. O subsídio de maternidade passa a estar ligado ao ordenado da mãe, o novo Elterngeld de 67 por cento do salário líquido, montante que não poderá ultrapassar os 1800 euros mensais e num máximo de 14 meses, em vez do regime da quantia fixa de 300 euros mês durante 24 meses ou 450 durante um ano.

"É um sinal de que a nossa sociedade quer compensar pais que trabalham" disse ao jornal Der Tagesspiegel a ministra da Família, Ursula von der Leyen, ela própria mãe de sete crianças. A medida surge para dar resposta à preocupante taxa de natalidade da Alemanha, a menor da União Europeia. Uma em cada três mulheres alemãs não quer ter filhos e as estatísticas anunciam um cenário dramático: em 2050 a população alemã ficará reduzida a 50 milhões contra os actuais 82. E caso a tendência não se inverta, a recente machete do diário Bild passará de previsão alarmista a realidade "os alemães estão a desaparecer". Actualmente são os imigrantes que mais contribuem para a natalidade com 1,9 crianças por casal.

"Nós, muçulmanos, não estamos preocupados em não ter dinheiro para os nossos filhos porque acreditamos que Alá dá-nos tudo o que precisamos", diz Burhan Kesici, vice-presidente da Federação Islâmica Federação em Berlim.

Com esta medida generosa, mas dispendiosa, o estado alemão aguarda um babyboom já este ano. A esperança é a de que muitos casais decidam ter filhos e que os actuais 1.3 nascimentos por casal passem a 2.1