Presidente da República exige "realizações
concretas" para 2007
Sofia Branco
Cavaco Silva quer ver "progressos claros",
especialmente nas áreas do desenvolvimento
económico, da educação
e da justiça
Reafirmando a importância de um "relacionamento
salutar" entre os órgãos de soberania, o Presidente
da República, Cavaco Silva, não deixou fugir a
oportunidade de falar "aos portugueses" na passagem
de ano para exigir mais da governação do país. "Os
portugueses exigem realizações concretas. E o
Presidente da República, no início deste ano de
2007, acompanha-os nessa exigência de resultados",
afirmou, na sua primeira mensagem de Ano Novo,
transmitida ontem à noite pela rádio e televisão
públicas.
Cavaco Silva especificou "três grandes domínios" nos
quais espera ver obtidos "progressos claros" em
2007, ano que considera "crucial para o futuro" do
país: desenvolvimento económico, educação e justiça.
Sublinhando que o desenvolvimento económico "é
essencial para que haja mais emprego, mais justiça
social e melhores condições de vida", Cavaco Silva
disse esperar "que 2007 fique marcado por uma
recuperação do investimento".
Atribuindo aos empresários o papel de "verdadeiros
agentes da mudança", aos quais cabe aumentar a
produtividade, investir mais e melhor e apostar na
inovação e na qualidade, o Presidente apelou à
afirmação de "uma cultura que dê espaço à
iniciativa, ao uso das competências e à valorização
do mérito". Como nem só dos empresários depende o
desenvolvimento, Cavaco Silva exigiu ao Estado que
"seja mais eficiente no uso dos seus recursos e que
actue com rapidez e transparência". "O Estado não
deve ser um obstáculo, antes deve favorecer a
competitividade das empresas e contribuir para que
os cidadãos desenvolvam as suas potencialidades",
referiu.
O Presidente sublinhou, porém, que o reequilíbrio
das contas públicas, sendo um "factor decisivo para
um crescimento económico sustentado", deve ter em
conta "a preservação da coesão social e a
solidariedade para os que mais precisam".
Esperando "melhorias visíveis no funcionamento" do
sistema educativo, Cavaco sublinhou que "a qualidade
do ensino, o estímulo à excelência e o combate sem
tréguas ao insucesso e abandono escolar têm que ter
sinais positivos já em 2007".
Congratulando-se pela redução de "alguma crispação
que marcava o sector da justiça" e pelo
"entendimento político alargado" para a reforma
judicial, o Presidente exigiu aos "protagonistas" do
sector "um contributo activo": "2007 é o ano em que
devem ser concretizados passos decisivos para a
melhoria do funcionamento do sistema de justiça."
Presidente partilha
"insatisfação"
No plano dos desafios, Cavaco Silva sublinhou a
presidência portuguesa da União Europeia, a decorrer
no segundo semestre do ano, "tarefa exigente,
complexa e de grande responsabilidade", mas que
representa "igualmente uma oportunidade, que tão
cedo não se repetirá, para afirmar o prestígio de
Portugal".
No plano político e institucional, reafirmou a
defesa da "cooperação estratégica" com o Executivo,
entendendo ser "fundamental que haja um clima de
confiança e estabilidade que favoreça o
desenvolvimento económico e social e permita a
realização de reformas inadiáveis". Mas alertou:
"Deve ainda existir um salutar relacionamento
institucional entre o Governo da República e os seus
interlocutores, desde os órgãos de governo próprio
das Regiões Autónomas às forças partidárias e aos
parceiros sociais."
Acreditando que Portugal vive "um tempo de
esperança", Cavaco Silva quis, contudo, falar aos
que vivem com maiores dificuldades, afirmando-se
"empenhado em lançar as sementes de uma sociedade
mais justa, solidária e inclusiva" e apelando a "um
olhar atento para o sofrimento dos menos
afortunados".
O Presidente disse ainda partilhar dos "sentimentos
daqueles que se têm mostrado insatisfeitos e querem
um país melhor". "Partilho dessa insatisfação, quero
um Portugal melhor, e, por isso, serei também
exigente quanto aos resultados. Só assim poderemos
compreender e aceitar que os sacrifícios do presente
são essenciais para preparar um futuro melhor",
argumentou.
"Em 2007, não podemos falhar as metas que queremos
atingir. Para isso, é fundamental que haja um clima
de confiança e estabilidade que favoreça o
desenvolvimento económico e social, credibilize as
instituições e permita a realização das reformas
inadiáveis", sintetizou.