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- 21 Jan 06
Uma Ministra da Família com
sete filhos
Ursula von der Leyen, 47 anos, é a ministra para a
Família no novo governo
alemão, e tem bons predicados para ocupar o cargo:
médica e mãe de sete filhos,
conseguiu também fazer carreira na política. Num
governo onde existem quatro
mulheres sem filhos, o seu caso chama a atenção.
Markus Wehner entrevistou-a
para o "Frankfurter Allgemeine Zeitung"
(27-12-2005).
- Na Alemanha, uma ministra com sete filhos é
considerada uma provocação.
- Na verdade, os muitos filhos que me foram
concedidos são, para algumas
pessoas, uma provocação. Mas há também muitas
pessoas que dizem: "Que bonito
que ainda haja alguém a viver essa
experiência e ainda por cima com um cargo
político". Alguns comparam a sua situação com
a minha e afirmam: "Nós
próprios temos de fazer sacrifícios com um ou dois
filhos". A época mais difícil
para o meu marido e para mim foi o início da nossa
vida profissional como
médicos jovens no hospital, com turnos nocturnos e
diurnos, com filhos pequenos
que precisavam da nossa dedicação, e também com a
inexperiência de jovens pais
aliada a rendimentos modestos. Nessa época, havia
alturas em que me sentia
realmente desesperada.
- Agora temos no governo quatro mulheres sem
filhos e apenas a senhora
ministra contribui para a quota de filhos. Não será
isto sinal de que é difícil
conciliar carreira profissional e filhos?
- É certo que temos um governo que reflecte a
realidade da Alemanha. Ao
contrário de muitos outros países europeus à nossa
volta, na Alemanha, o facto
de não se ter filhos já não é considerado uma
carência. Gostaria de deixar
claro que se trata de uma febre cultural. Mas a
renúncia a ter filhos também
se transformou, na Alemanha, em requisito para uma
brilhante carreira
profissional. E isto constitui um verdadeiro drama.
- A renúncia a ter filhos é o preço que muitas
mulheres têm de pagar pela
sua emancipação?
- De forma alguma. Simplesmente ainda não
conseguimos harmonizar uma boa
formação e a entrada no mundo laboral com a
educação dos filhos. E existe
outro aspecto importante: temos de focar mais a
nossa atenção no pai porque
está provado que são os homens, mais que as
mulheres, que excluem os filhos
quando planeiam as suas vidas.
- O culto da figura do "solteiro independente"
não é também um factor
importante na renúncia aos filhos?
- É verdade que acentuou esta influência. Mas, ao
mesmo tempo, algumas empresas
reconhecem que, quando se procuram jovens com uma
boa formação, é necessário
também prestar atenção ao desejo dessas pessoas em
ter filhos. As capacidades de
liderança - capacidade de trabalho, de organização,
sentido de responsabilidade -
adquirem-se fundamentalmente, não na profissão, mas
na família e em cargos não
remunerados. Uma empresa que pretenda fazer surgir
personalidades com sentido de liderança mas
ao mesmo tempo humanamente
ricas, deverá preocupar-se em que essas pessoas
tenham tempo e lugar para
serem também pais ou mães.
- Mas a realidade é outra.
- Tem razão. No entanto, a política também deve
fazer a sua parte, criando
uma infra-estrutura variada e flexível que
possibilite dar atenção aos filhos,
e procurando que a política económica seja uma ajuda
real na etapa em que se têm
os filhos, que é normalmente a mais crítica. Por
este motivo, neste governo de
coligação, decidimos conceder especial importância
às famílias jovens, com
relevo para um subsídio para os pais a partir de
2007.
ACEPRENSA
(tradução para a Aldeia de Lara Gisela Dias)