Diário de Notícias - 20 Jan 06

Menina que a Justiça quis deixar morrer dá sinais de vida

Sofia Jesus

Haleigh Poutre lançou o debate mundial quando, depois de quatro meses em estado vegetativo persistente, reagiu a estímulos e voltou a respirar sozinha. Mais do que um eventual milagre da medicina, a história da menina norte-americana de 11 anos, vítima de maus tratos, veio desafiar a lei . Afinal, os seus sinais de recuperação foram conhecidos ontem, dois dias depois de a Justiça ter decidido deixá-la morrer.

O Supremo Tribunal de Massachusetts autorizou na terça-feira os serviços sociais do Estado - que detêm a guarda da menina - a desligarem os tubos que a mantinham viva, desde que foi internada, em Setembro, depois de ter sido espancada (ver texto ao lado). A sentença veio corroborar uma outra proferida por um tribunal de instância inferior, em resposta ao pedido dos serviços sociais, que pretendiam assim pôr fim ao sofrimento da menor. Na origem da proposta do Estado estavam relatórios médicos que consideravam irreversível o seu estado vegetativo.

Segundo anunciou ontem Denise Monteiro, porta-voz do Departamento dos Serviços Sociais, já na semana passada os médicos tinham retirado a menor do ventilador. "Ela consegue respirar, mas não consegue engolir sozinha", esclareceu ontem a técnica, citada pela CBS News.

As primeiras notícias da recuperação de Haleigh foram conhecidas nos EUA ainda na quarta-feira à noite, um dia depois da decisão do Supremo. Nessa altura, Denise Monteiro admitia já "uma possível mudança no estado de saúde" da criança, traduzida, por exemplo, nas respostas a certos estímulos.

Sublinhando que serão precisos mais testes para aferir o grau de recuperação dos danos cerebrais da menor, os serviços sociais asseguram que o Estado não tem agora qualquer intenção imediata de remover o tubo de alimentação a que a criança ainda está ligada.

Segundo especialistas, os pacientes com danos cerebrais severos podem recuperar parcialmente, mas raras vezes o suficiente para viverem vidas normais.

WB00789_.gif (161 bytes)