Hoje
existem em Portugal mais de três milhões de
pensionistas (do Estado e do regime geral) e
estima-se que, dentro de uma década, haja um
aumento entre 300 a 400 mil reformados.
“A sustentabilidade da nossa Segurança
Social está comprometida porque, a manter-se
a dinâmica populacional que temos e o
esquema actual de financiamento até 2015, o
fundo de estabilização financeira deixará de
ter dinheiro para pagar reformas”, disse
Teixeira dos Santos, entrevistado no
programa ‘Prós e Contras’, da RTP, anteontem
à noite.
Segundo o ministro, 17 por cento da
população portuguesa tem mais de 65 anos e,
daqui a 45 anos, essa percentagem vai
duplicar.
A visão do ministro das Finanças não é
partilhada pelo seu colega de Governo que
tutela a Segurança Social. Vieira da Silva,
ministro do Trabalho e da Segurança Social,
frisou ontem que existem condições para
vencer as dificuldades de sustentabilidade
da Segurança Social desde que sejam tomadas
as medidas adequadas, algumas das quais
foram já anunciadas pelo Governo.
“Se nada fosse feito, a Segurança Social
poderia chegar a uma situação em que as
receitas não seriam suficientes para cobrir
as despesas, o que não quer dizer que não
teríamos recursos para pagar as pensões, mas
estaríamos numa situação de défice”,
sublinhou Vieira da Silva.
Entre estas medidas, Vieira da Silva apontou
o reforço do financiamento da Segurança
Social com as receitas do aumento do IVA de
19 para 21 por cento, o combate à evasão
contributiva, o combate à saída precoce do
mercado de trabalho e a antecipação da nova
fórmula de cálculo das pensões.
Segundo disse ao CM o ex-secretário de
Estado e especialista em Segurança Social,
Fernando Ribeiro Mendes, daqui a dez anos
“existirão, pelo menos, mais 300 a 400 mil
pensionistas”. Ribeiro Mendes considera que
“não é correcto dar uma imagem de falência
iminente da Segurança Social”, uma vez que
as dificuldades são conhecidas há anos.
“Tem havido pouca vontade política para
resolver a questão, mas se o emprego e a
economia recuperarem, o problema pode
resolver-se”, adiantou o especialista.
SUBSÍDIO DE DESEMPREGO REVISTO
A reforma das regras relativas ao subsídio
de desemprego deverá estar pronta já no
próximo mês de modo a entrar em vigor no
segundo semestre deste ano, relevou ontem o
ministro do Trabalho e da Segurança Social,
Vieira da Silva.
Para o ministro esta reforma será, também,
“uma forma de melhorar a sustentabilidade da
Segurança Social”, uma vez que o subsídio de
desemprego é a segunda maior prestação
social, a seguir às pensões.
Vieira da Silva, que falava à margem de uma
reunião da concertação social, sustentou que
o subsídio de desemprego “cumpre uma função
social muito importante, que é assegurar a
protecção de quem está desempregado” e
realçou que, como tal, “deve ser utilizada
de forma muito rigorosa.
“Infelizmente existe uma percentagem de
beneficiários desta prestação que a acumulam
com um salário, ou seja, têm rendimentos
duplos, contrariando o que está na lei”,
referiu o governante, adiantando que o
objectivo da reforma é tornar o subsídio
mais eficaz, “fazendo com que este chegue a
quem precisa e que ajude à sustentabilidade
financeira da Segurança Social”.
O Governo tem vindo a trabalhar em conjunto
com os parceiros sociais para alcançar um
acordo sobre esta reforma e, segundo Vieira
da Silva, as negociações estão bem
encaminhadas. A questão mais polémica das
conversações, sobre a qual não há ainda
acordo, diz respeito à concessão de subsídio
de desemprego a pessoas que tenham recebido
indemnizações por rescisão amigável – um
subterfúgio ao qual muitas empresas têm
recorrido nos últimos tempos para se
reestruturarem.
Os sindicatos concordam que esta situação,
que sobrecarrega a Segurança Social, não
pode prosseguir, mas as confederações
patronais resistem à alteração das regras.
A revisão do regime de subsídio de
desemprego vai ser um dos temas prioritários
da concertação social, cuja agenda para 2006
foi ontem delineada. O secretário-geral da
UGT, João Proença, considerou a matéria
delicada e defendeu que a sua discussão deve
continuar e que as novas regras “têm de
assegurar a sustentabilidade económica das
famílias que perdem os seus rendimentos do
trabalho”.
MEDINA CONCORDA COM MINISTRO
O ex-ministro das Finanças Medina Carreira
concorda em absoluto com as declarações de
Teixeira dos Santos por ter tido a “decência
de avisar o País”. No entanto, considerou
“lamentável que só agora um Governo tenha
tido a coragem para o fazer”.
Medina Carreira referiu, ainda, ser contra o
aumento da idade da reforma e a favor da
alteração da fórmula de cálculo das pensões.
Uma posição que merece a concordância de
Fernando Ribeiro Mendes, ex-secretário de
Estado da Segurança Social. Para o
ex-governante, a economia portuguesa vai
continuar a ter um crescimento muito
reduzido e é importante criar condições para
um crescimento viável e com efeitos a curto
prazo.
OPINIÃO DOS CANDIDATOS A BELÉM
"SERIA DRAMÁTICO"
“Tenho insistido tanto no crescimento
económico. Seria dramático se o Estado não
conseguisse garantir dignidade àqueles que
tiveram uma vida de trabalho.” (Aníbal
Cavaco Silva)
"GOVERNO CONSCIENTE"
“O Governo está consciente disso e está a
fazer tudo para que isso não aconteça. Mas
tem de se fazer com tempo, ter uma visão a
10 ou 15 anos de distância.” (Mário
Soares)
"ARLAMISTA E CATASTRÓFICA"
“Esses cálculos não são certezas absolutas e
dependem de muitos factores; não tenho essa
posição alarmista nem catastrófica.”
(Manuel Alegre)
"MAIS EMPREGO"
O candidato recebeu a notícia com “profunda
inquietação”. A solução “passa pelo
crescimento da economia e por mais emprego.”
(Jerónimo de Sousa)
"NOVO MODELO"
Louçã acusou o Executivo de “não ter a mais
pálida ideia” de como resolver o problema e
defendeu um “novo modelo de financiamento
mais corajoso e sensato.” (Francisco
Louça)
CGTP E A IRRESPONSABILIDADE
Para o líder da CGTP, Carvalho da Silva, as
declarações de Teixeira dos Santos foram
“desestabilizadoras
e irresponsáveis”.
UGT FALA DE ALARMISMO
O secretário-geral da UGT, João Proença,
considerou as declarações do ministro das
Finanças como “alarmistas
e injustificadas”.
CCP ENTENDE ALERTA
José António Silva, da CCP, entendeu as
afirmações do ministro como um alerta para o
risco de dificuldades financeiras na
Segurança Social.
GARCIA NÃO ACREDITA
Garcia Pereira considerou que as medidas
governamentais não vão resolver o problema
da sustentabilidade da Segurança Social. |