Público - 11 Jan 06
Segurança social entra em défice em 2007 e esgota
"almofada" em 2014
Eunice Lourenço
Ministro da tutela diz que o Governo já começou a
tomar medidas para evitar cenário traçado em
relatório
O ministro do Trabalho e da Solidariedade Social, José
Vieira da Silva, afirmou ontem que existem condições
para vencer as dificuldades de sustentabilidade da
Segurança Social, desde que sejam tomadas as medidas
adequadas. Vieira da Silva, citado pela Lusa, comentava
assim o alerta lançado anteontem pelo seu colega das
Finanças, Teixeira dos Santos, da possibilidade de
falência do sistema de Segurança Social dentro de dez
anos.
"A sustentabilidade da nossa Segurança Social está
comprometida, porque a manter-se a dinâmica populacional
que nós temos neste momento, daqui a 45 anos a
percentagem da população com mais de 65 anos vai
duplicar [actualmente 17 por cento da população tem de
mais 65 anos]. Isto exige um grande esforço financeiro
para pagar reformas a este estrato da população e
mantendo o actual esquema de financiamento e as actuais
políticas, em 2015 o fundo de estabilização financeira
da Segurança Social deixará de ter dinheiro para pagar
reformas. É daqui a dez anos que eu estou a falar",
disse Teixeira dos Santos, no programa Prós e Contras da
RTP.
O ministro das Finanças reafirmava assim as conclusões
do relatório sobre a sustentabilidade da Segurança
Social entregue no Parlamento em Outubro, com o
Orçamento do Estado para 2006. De acordo com esse
relatório, se nada for feito, o sistema público de
Segurança deixará de ser auto-sustentável em 2015. Em
2007, o sistema entra em défice, ou seja as
contribuições deixam de ser suficientes para pagar as
prestações sociais (pensões, subsidio de desemprego, etc),
passando a ser necessário recorrer ao fundo de
estabilização financeira. E este esgotar-se-á em 2014.
Isto significaria que, a partir de 2015, as reformas
teriam de começar a ser pagas com dinheiro de fora do
sistema, recorrendo a verbas do Orçamento do Estado.
Vieira da Silva, que falava à margem de uma reunião da
concertação social, salientou que o Executivo já tomou
várias medidas para tentar contrariar este risco de
insustentabilidade. Entre essas medidas, salientou a
consignação à Segurança Social de uma parte das receitas
conseguidas com o aumento do IVA de 19 para 21 por
cento, o combate à fraude e evasão (com a qual o Governo
conseguiu recuperar 200 milhões de euros em 2005) e a
suspensão das reformas antecipadas. Também já foi
alterada a tributação dos trabalhadores independentes.
Aumento das contribuições é uma das hipóteses
O ministro da Solidariedade Social lembrou também que há
outras medidas que o Governo pretende introduzir,
nomeadamente a criação de mais emprego e tornar o
sistema mais equilibrado e equitativo. Uma das medidas
que já está em discussão na concertação social é a
alteração das regras do subsídio de desemprego. Outra,
cuja discussão se seguirá também naquela sede, é a
antecipação da nova fórmula para o cálculo das pensões,
como o PÚBLICO adiantou em Setembro. Essa nova fórmula -
que levará a reformas mais baixas, já que terá em conta
toda a carreira contributiva e não apenas os melhores
dez anos dos últimos 15 - devia entrar em vigor só em
2017, mas o Governo quer antecipá-la.
Essa é, aliás, uma das medidas recomendadas pelo
relatório de sustentabilidade que, pelo contrário,
desaconselha a introdução de tectos contributivos. O que
será introduzido é um tecto máximo para as pensões,
equivalente ao salário do Presidente da República e o
congelamento dos aumentos de todas as pensões superiores
a esse valor. Também, por enquanto, fica de fora a
hipótese de aumentar para mais de 65 anos a idade legal
de reforma. Já por várias vezes, Vieira da Silva disse
que tal não será feito, pelo menos nesta legislatura.
Na revisão do Programa de Estabilidade e Crescimento
(PEC), feita em Dezembro, são apontadas outras possíveis
medidas, como "o aumento da base de incidência
contributiva e racionalização das taxas contributivas
mais favoráveis".
As afirmações de Teixeira dos Santos, apesar de apenas
reafirmarem o que já está em vários documentos do
Governo, suscitaram uma série de reacções, quer dos
candidatos presidenciais (ver pág.10), quer da oposição
e dos parceiros sociais, que acusaram Teixeira dos
Santos de "alarmismo".