Público - 11 Jan 06
Crise na segurança social entra na campanha
As declarações do ministro das Finanças, Teixeira
dos Santos, sobre o risco de falência da segurança
social em 2015 (ver página 32) suscitaram diferentes
reacções por parte dos candidatos a Presidente da
República. Alegre, Jerónimo e Cavaco criticaram o
que consideram ser um tom alarmista, enquanto Louçã,
Soares e Garcia Pereira reconheceram que o cenário
evocado pelo ministro pode muito bem ter lugar.
Manuel Alegre reconheceu que Teixeira dos Santos
"tem razão para estar preocupado", mas salientou que
"ninguém pode afirmar que daqui a dez anos vai haver
uma ruptura" na segurança social. "Isso são
previsões e suposições", afirmou, realçando que
"tudo depende do crescimento económico, de haver
mais emprego, mais natalidade, mais imigrantes
legais".
Jerónimo de Sousa foi mais longe e classificou a
previsão do ministro das Finanças de "derrotista" e
"terrorista". "Vir agora afirmar esta posição é
querer dar cobertura à possibilidade de aumento da
reforma e à privatização de alguns segmentos da
segurança social", criticou o candidato apoiado pelo
PCP, aproveitando para exigir ao Governo que pague
"os mais de seis mil milhões de euros que deve à
segurança social".
Por seu lado, Garcia Pereira reconheceu que o
Estado, dentro de dez anos, não terá dinheiro para
pagar as reformas se não forem efectuadas alterações
no sistema de financiamento. O candidato apoiado
pelo PCTP-MRPP salientou que "esta é mais uma
demonstração da forma de actuação do Governo PS, que
obteve nas urnas uma maioria absoluta com base num
programa eleitoral e aplica outro totalmente
oposto".
Tanto Francisco Louçã como Mário Soares consideraram
que as declarações do ministro das Finanças não são
uma novidade. O candidato apoiado pelo BE recordou o
relatório sobre a sustentabilidade da segurança
social para salientar que "em 2015 não haverá, de
facto, dinheiro para pagar as pensões", acusando, no
entanto, o Governo de não ter "a mais pálida ideia
do que se deve fazer".
Mário Soares não quis valorizar as declarações de
Teixeira dos Santos e defendeu mesmo que o que o
ministro disse "só não sabe quem não está
informado". Já sobre a necessidade de medidas
difíceis, o candidato apoiado pelo PS considerou que
elas "não serão mais difíceis" do que as que já
foram tomadas.
Cavaco Silva - que Louçã e Jerónimo
responsabilizaram directamente pela actual situação
na segurança social - entendeu que "não se deve
especular em relação a uma matéria tão séria e tão
grave". O candidato apoiado pelo PSD e CDS/PP
afirmou que a crise na sustentabilidade da segurança
social exige "estudos aprofundados e sérios",
admitindo, no entanto, que só "o reforço da
competitividade" permitirá recuperar. "Se a economia
estagnar, então corremos riscos", alertou.