Diário de Notícias - 31 Jan 05 |
PSD e PS querem adiar aposentação
Carla
Aguiar
Aumentar ou não aumentar a idade de reforma? A questão,
ciclicamente recuperada, voltou à ordem do dia pela boca do primeiro-ministro,
Santana Lopes, que defendeu a subida. A ideia é também admitida pelo PS. Mas
conta com a feroz oposição de patrões e sindicatos.
"Admito que se possa aumentar a idade de reforma", disse ao DN o coordenador do
PS para a Saúde e Segurança Social. Correia de Campos ressalvou, todavia, que
"qualquer mudança terá de ser feita com muito gradualismo e sempre em
concertação com trabalhadores e patrões". Para o homem que presidiu à Comissão
do Livro Branco da Segurança Social, o principal argumento a favor do
alargamento da idade de reforma é o do aumento da esperança de vida. "Quando se
estabeleceu o limite dos 65 anos para a reforma, em 1960, os portugueses viviam,
em média, menos 11,5 anos do que agora."
Correia de Campos reconhece que resolver o que está em causa "não é tarefa
fácil. Os alemães andam às voltas com isto há dez anos". Mas lembrou que há que
abrir caminho. E, acrescentou, "antes do Livro Branco também ninguém aceitava
que passasse a contar toda a carreira contributiva para a formação da pensão,
foi preciso mostrar a injustiça do sistema e até os sindicatos entenderam".
Um entendimento que está muito longe de ser alcançado, a julgar pelas posições
de confederações patronais e sindicais ao DN. "Seria extremamente penalizador
para a competitividade das empresas portugueses aumentar a idade de reforma",
considera o presidente da CIP, que alerta para a necessidade crescente que as
empresas têm de mão-de-obra mais qualificada e que domine novas tecnologias.
"Isto é muito sério, e o que aconteceria ao direito ao trabalho dos mais
novos?", pergunta Francisco Van Zeller.
Para o patrão dos patrões, a prioridade do Governo no sentido de melhorar a
sustentabilidade deveria passar por disciplinar as reformas antecipadas.
"Aumentar a idade é a solução preguiçosa", refere. Outra alternativa é obrigar
as pensões acima de um determinado montante a pagarem taxa social única, tal
como já acontece com o IRS.
Esta hipótese é também admitida pelo economista Carlos Pereira da Silva,
ex-presidente do Instituto de Gestão de Fundos de Capitalização da Segurança
Social. Pereira da Silva é contrário à solução do aumento da idade, "porque esta
não é uma questão meramente aritmética e, por outro lado, arrasa-se a
competitividade das empresas que precisam de gente nova", que domine as novas
tecnologias. "Se o problema é o da esperança de vida, então fixe-se um mínimo de
anos de carreira contributiva para se poder aceder à pensão e, no caso da sua
inexistência, faça-se uma contribuição adicional para a financiar, em função da
esperança de vida estimada", sustenta. Mas "não é recorrendo aos fundos privados
que o problema se resolve por si só, pois os sistemas de capitalização também
não são imunes ao risco da longevidade".
A proposta do PSD, cujos contornos ainda não são bem conhecidos, implicam
aumentos da idade diferenciados em função da idade e da carreira contributiva,
com base em cálculos actuariais. João Proença, da UGT, alerta que nenhum Governo
pode mexer unilateralmente no regime contributivo da Segurança Social, que "está
equilibrado nos próximos 20 anos", porque não é do Estado, é o resultado dos
descontos individuais.
Na administração pública, "qualquer intenção de adiar a idade de reforma
contraria o objectivo da renovação dos quadros", diz Bettencourt Picanço, do
Sindicato dos Quadros Técnicos do Estado. "E não permite poupanças no
curto-médio prazo, a não ser que se alterassem as regras para aqueles que já
estão à beira da aposentação, o que seria inaceitável."
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