Jornal de Notícias - 15 Jan 05
Bagão Félix mantém IVA reduzido nas
fraldas de bebés
braço-de-ferro Bruxelas quer
que o Estado reponha o IVA a 19%, mas o ministro das Finanças
desvaloriza a questão Associação das Famílias Numerosas critica
Comissão Europeia
O ministro das
Finanças, Bagão Félix, considera não haver motivos para que a
Comissão Europeia (CE) venha a impedir que as fraldas para bebés
sejam sujeitas à taxa reduzida de IVA. Socorrendo-se do Código do
IVA, que inclui nos produtos que podem beneficiar de uma taxa de 5%
"os resguardos e fraldas para adultos incontinentes", o governante
afirmou que a alteração do Orçamento do Estado (OE) para 2005 foi
deixar cair a referência à idade ("adultos"), acabando assim com a
distinção entre fraldas para bebés e para adultos com problemas de
incontinência.
"A notícia do IVA não me preocupa absolutamente nada", referiu o
ministro das Finanças, para, num registo de humor, sublinhar que "se
a CE está preocupada com esta matéria, que lhe faça bom proveito. O
país tem problemas mais importantes". Para Bagão Félix é
incompreensível que os preservativos sejam taxados a 5%, enquanto as
fraldas para bebés e crianças sejam oneradas com a taxa máxima do
IVA, o que sobrecarrega os rendimentos dos pais.
Recorde-se que a descida da taxa do IVA que incide sobre as fraldas
para os mais pequenos era uma medida já defendida por Bagão Félix
quando estava na Segurança Social e que acabou por ter luz verde no
OE para 2005.
Essa medida poderá, no entanto, não se concretizar caso a CE entenda
que a autorização para aplicação de IVA reduzido nas fraldas de
adultos não pode ser estendida às fraldas de bebés. Uma notícia
avançada ontem pelo "Diário Económico", citando fonte da CE, dava
conta que aquela mexida configura "uma clara infracção das regras
comunitárias". A questão, no entanto, não preocupa Bagão Félix, que
considera tratar-se de um tema para tecnocratas.
Declarações que causam perplexidade junto da Comissão e do Conselho
da União Europeia. Fontes contactadas pelo JN nas duas instituições
dizem não querer alimentar nenhuma polémica, mas lembram que
qualquer Estado-membro é livre de tentar negociar nas instâncias
competentes da UE quaisquer derrogações ao regime europeu de IVA,
sejam elas isenções ou taxas reduzidas.
As várias taxas reduzidas autorizadas na União são acordadas
colectivamente a Vinte e Cinco. Se um país se colocar a si próprio
numa situação de ilegalidade arrisca-se a enfrentar uma acção
judicial interposta pela guardiã do arsenal legislativo europeu, a
Comissão de Bruxelas.
O que até pode nem ser muito grave se se tiver em conta que um
processo no Tribunal Europeu de Justiça pode demorar mais de dois
anos a ser resolvido. Ou seja, o seu desfecho pode ocorrer num
momento em que os responsáveis governamentais cujas decisões são
julgadas no Luxemburgo deixaram há muito de exercer tais funções.
* Com Alexandra Lobão
