Diário Digital - 29 Jan 04
Aborto
João de Mendia
Há coisas, como o aborto, que me custam colocar porque não sei, nem mesmo
nas suas versões mais utópicas ou como mero exercício de fantasia. Pelo
que, ao coloca-las, irão ser, necessariamente, mal colocadas, embora o
faça apenas para que se não viva sem se saber que há quem a isso se
dedique, e com sucesso, e alertar para os perigos que decorrem, também, da
desinformação que se instalou em redor deste assunto. Por razões que
me pareciam, em tempos, que não se discutiam, o aborto sempre foi para mim
tido como uma atitude que dificilmente alguém tomaria, não apenas pelo
facto em si, como pelo estado de degradação moral e física em que todos os
que nisso intervêm, invariavelmente, ficavam, e ficam. Mas não, tudo tem a
sua evolução, macabra muitas das vezes, pelo que dou comigo a ver reacções
de pessoas, mães e pais, achando que o aborto pode muito bem não ser só o
aborto, mas também um argumento que pode ajudar a que se alcancem outros
patamares que nada têm a ver com tudo isto, nem muito menos com as vidas
que deixam de existir. Sendo à custa de mortes que lá tentam chegar.
Como já noutras ocasiões tem saltado à riça, a política nos dias que
correm deixou de ser um meio para atingir um fim possível, para passar a
ser mesmo um fim em si, independentemente delas serem boas ou más para a
cidade. Tudo tem vindo, crescentemente, a ser legítimo para atingir fins,
nem que isso passe pela tragédia de homicídios legitimados, que são, no
fundo, os abortos.
Tanto o BE como o PCP, e aí tem razão o Dr. Alberto João que não se cansa
de alertar para isso, estão programaticamente a lutar pela destruição do
que resta de sociedades organizadas e dos valores Cristãos do Ocidente,
falida que está a proposta económica. Esta esquerda está apostada numa
sociedade sem tradições, sem critérios, sem regras, sem Deus. É a família
que tem de desaparecer para que se cumpram os desígnios que continuam a
constar dos programas dos PC e do BE. È a esta gente que se está,
perigosamente, a achar uma certa graça, pelo "charme" lucifériço de alguns
dos seus e das meias verdades que parecem fazer sentido e de que vivem os
Louçãs.
Está-se a assistir a uma verdadeira chantagem emocional, tanto às mulheres
como a todos aqueles que vão sendo permeáveis à violência verbal dos
demagogos de serviço, sempre os mesmos, a quem não se lhes nota a menor
réstia de escrúpulos em jogar seja com o que for para alienar as pessoas
e, em última análise, a sociedade.
Nestas coisas da demagogia, interessa esclarecer que as vítimas estão
longe de ser apenas as mulheres, mas também, e sobretudo, as crianças.
Quem aborta, ou quem a isso se dedica, sobrevive a uma fase de enorme
convulsão física e emocional, mas a criança, essa morre. E depois de
assassinada é lançada no lixo ou queimada em incineradoras.
Não faz o menor sentido que nos dias que correm se recorra aos tribunais
para exigir reparações de ofensas, ou mesmo de agressões físicas, através
de excêntricas indemnizações em espécie ou memo em dinheiro, para depois
se despenalizar o horror do crime de homicídio de inocentes indefesos que
são as crianças. E se o Partido Comunista e o Bloco de Esquerda foram
mesmo concebidos, entre outras coisas, para isso mesmo, para achar o
homicídio um meio para atingir fins aberrantes, não se pode permitir que
toda a sociedade portuguesa se deixe inebriar e adormecer pelo perverso
canto da sereia que são as demagógicas e condenáveis tiradas insultuosas
do Bloquistas de Esquerda e outros aprendizes de ditadores que nos
massacram.
Há, por outro lado, uma enorme falta de escrúpulos em usar e abusar das
mulheres para propagandear a morte através do aborto. Se se quer promover
o aborto, usam-nas facilitando-lhes as deslocações ao estrangeiro para
consumar o homicídio. Se se opta por deixar funcionar a natureza e
permitir que nasça um ser que já tem vida há nove meses, chovem insultos e
vitupérios de extrema gravidade, e abando-se à sorte madrasta de ter de
sobreviver em condições muitas vezes desesperantes as novas pessoas
humanas e as suas mães.
Não há já quem negue, maoistas inclusive, que a vida existe desde a fase
unicelular, pelo que legalizar o aborto é um homicídio consciente, e
premeditado, que se descriminaliza. E sendo assim, e não dependendo o
reconhecimento de um acto criminoso da idade da vítima, se se
descriminalizar o aborto, legitima-se igualmente o assassínio de um
qualquer inimigo ou de um simples adversário que salte incomodamente ao
caminho.
" A distinção que por vezes é sugerida em alguns documentos internacionais
entre ser humano e pessoa humana, para depois reconhecer o direito à vida
e à integridade física apenas à pessoa já nascida, é uma distinção
artificial sem fundamento científico nem filosófico..." (João Paulo II -
L'Observatore Romano, Março 2002). Pelo que não faz, também, sentido, que
se colabore na morte de crianças inocentes e indefesas que são integrais
seres humanos. "Reivindicar o direito ao aborto e reconhecê-lo legalmente,
equivale atribuir à liberdade humana um significado perverso e iníquo: o
significado de um poder absoluto sobre os outros e contra os outros. Mas
isso é a morte da verdadeira liberdade. (João Paolo II, Evangelium Vitae,
nº 20).
É por todas estas razões que nunca é demais alertar as pessoas para o que
está verdadeiramente em jogo na sibilina mas perversa proposta do PC e BE,
que são, em tudo, iguais, quer se queiram distanciar um do outro quer não.
A vida está assim a ser moeda de troca para se alcançar mais poder e votos
nas próximas sessões eleitorais.
jmportugal@hotmail.com |