Público - 21 Jan 04
CIP Contesta Alargamento da Licença de Maternidade
Por ANDREIA SANCHES
O presidente da Confederação da Indústria Portuguesa (CIP), Francisco Van
Zeller, defende que alargar em duas semanas a licença de maternidade, como
foi prometido na semana passada pelo ministro da Segurança Social e do
Trabalho, não vai resolver nenhum problema às mães trabalhadoras nem
fomentar a natalidade.
Van Zeller reconhece que as mulheres são, à partida, penalizadas no
mercado de trabalho porque "é um facto que os patrões preferem ter homens
a trabalhar". Por isso, é preciso "mudar as mentalidades" e "promover o
trabalho a tempo parcial".
"É da natureza que são as mulheres e não os homens que têm filhos e é um
facto que nas empresas mais pequenas a falta de uma mulher durante quatro
ou cinco meses pesa tanto que os patrões preferem não a ter a trabalhar.
Mas pode fazer-se uma campanha de sensibilização, começando nas empresas
maiores", começa por explicar Van Zeller.
"É preciso dizer a todos que não chega ter um filho, que o país precisa de
mais crianças, e que não chega às mulheres terem quatro ou cinco meses
para estarem com os bebés, para os amamentarem e apoiarem", razão pela
qual acrescentar duas semanas à actual licença de maternidade de quatro
meses nada vai resolver, sustenta. "Por tudo isto, somos muito partidários
do tempo parcial. Ou seja, para além do período do parto normal e da
aleitação, a mulher poder dizer que quer trabalhar em tempo parcial
durante um determinado período de tempo largo, de dois, três, quatro anos,
e isso não lhe poder ser recusado." As mulheres que aderissem poderiam
depois desse período "voltar a trabalhar tempo inteiro".
Van Zeller garante que "há milhares de profissões que podem ser
partilhadas, de manhã por uma trabalhadora e à tarde por outra". Mas, em
sua opinião, para que este sistema seja aplicado seria preciso deixar
claro que o tempo parcial não se destinaria a todos os empregados, mas
apenas às mulheres que querem ter filhos, nem teria como objectivo fazer
com que os patrões possam resolver o problema da mão-de-obra excedentária.
Talvez assim se resolvessem as resistências dos sindicatos, acredita.
Para além disso, é necessário sensibilizar os patrões, tarefa que cabe ao
Governo e "a todos nós". Na hora de enumerar as vantagens que empresários
têm ao contratar mulheres, Van Zeller sublinha três: "A mão-de-obra é
escassa, ao contrário do que às vezes se pensa, e por isso as mulheres
fazem falta"; por outro lado, "as mulheres são mais estáveis, não
andam a saltitar de emprego em emprego"; e, finalmente, "quer gostemos
quer não, acabam por ganhar menos".
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