Público - 14 Jan 04
Ministro Prefere Apoiar Famílias a Instituições
Por S.R.
Apoiar as famílias, até com benefícios fiscais, para que acolham os seus
idosos e potenciar o apoio domiciliário é uma das apostas do Ministério da
Segurança Social e do Trabalho, com vista a contrariar a política de
transferência dos mais velhos das famílias para os lares. A solução foi
efendida ontem pelo ministro Bagão Felix, em reacção à auditoria aos lares
portugueses que aponta falta generalizada de condições neste tipo de
instituições.
"Há famílias que não têm outra solução, mas também há muitas que mandam os
seus pais desumanamente para os lares e até para hospitais para poderem
gozar dias de festa", afirmou o ministro, à margem de um encontro em
Lisboa, defendendo que "a prioridade não são os lares".
Em reacção à auditoria divulgada ontem pelo PÚBLICO, Bagão Felix sublinhou
que o ministério vai prosseguir com a política de encerramento de lares
por falta de condições (foram fechados 40 no ano passado) e desenvolver a
certificação de qualidade das instituições. Existe um programa, a
funcionar até 2006, com exigências de segurança e de formação, mas o
ministro desconhecia o número de lares já contemplados no âmbito daquele
acordo.
Bagão Felix rejeitou a ideia de que as conclusões da auditoria,
encomendada pelo anterior Governo, terão ficado na gaveta. "Em 2003, o
ministério gastou cinco milhões de euros para melhorar sistemas de
detecção de incêndio", revelou o ministro, recusando no entanto o número
de 60 mil idosos que estão em lista de espera, registado pelo estudo. "Há
famílias que têm os seus pais inscritos em dois ou três lares ao mesmo
tempo para ver se entram", explicou o titular da pasta da Segurança
Social, que assegurou ter conhecimento da auditoria.
Esta radiografia exaustiva aos lares de idosos, levada a cabo pelo
Instituto de Desenvolvimento Social (entretanto extinto), concluiu que uma
parte substancial das instituições responde apenas à satisfacção de
necessidades básicas como a alimentação e higiene, apenas 40 por cento
estão dotados de sistema de detecção e combate a incêndios e uma grande
fatia tem barreiras arquitectónicas.
Os maus tratos aos idosos (bem como às crianças e às pessoas portadoras de
deficiência) vão ser alvo de um plano de prevenção e combate que será
apresentado por um grupo designado por CID (Crianças, Idosos e Deficientes
- Cidadania, Instituições e Direitos) e nomeado em 2003 pelo actual
ministro. |