Público - 6 Jan 04
Deco Quer Que Seja Investigada Eventual Cartelização
Por J.M.R.
A Deco, Associação Portuguesa para a Defesa dos Consumidores, considera
que "o aumento anunciado do pão é preocupante". "Não nos parece legítimo
fazer aumentos que andarão acima dos 20 por cento ou mesmo dos 30 por
cento", referiu ao PÚBLICO Jorge Morgado, secretário-geral da organização.
"Mesmo que o preço das farinhas tenha crescido nessa ordem, temos de ter
presente que não é apenas o custo da matéria-prima que entra na formação
do preço do produto. Há também custos de energia, água, mão-de-obra e
restantes componentes do preço final que não tiveram aumentos daquele
nível", acrescentou o responsável da Deco.
Jorge Morgado afirma nada ter contra a liberdade de fixação de preços,
"própria de uma sociedade onde existe livre concorrência", e considera até
que o facto do custo do pão ter deixado de ser intervencionado pelo
Governo teve consequências positivas. "Foi uma medida interessante que
contribuiu para a melhoria da qualidade do pão e para o aparecimento de
novos produtos".
Mas o responsável da Deco faz também questão de lembrar que as empresas de
panificação assumem uma responsabilidade social que não é dispicienda e
que deve ter tida em conta. "Aumentar o preço do pão não é a mesma coisa
que aumentar o preço dos perfumes ou do salmão fumado. Há que ter
consciência que o aumento do pão pode criar problemas às famílias mais
carenciadas".
A Deco exige, por isso, que a Autoridade para a Concorrência, na linha do
que lhe foi cometido pelo ministro da Economia, investigue se há
ilegalidade neste processo. "Se aconteceu aumento generalizado por valores
uniformes, muito parecidos, e em todos os tipos de pão, então estaremos
perante uma situação de cartelização e a Autoridade para a Concorrência
tem que investigar". "Esta entidade tem, neste caso, uma excelente
oportunidade para se credibilizar juntos dos agentes económicos e
consumidores", acrescentou Jorge Morgado.
Para além da intervenção das autoridades para investigarem se a legislação
está ou não a ser respeitada, a Deco entende que os consumidores devem
ter, igualmente, uma posição activa neste processo, denunciando a
"ilegitimidade dos aumentos" junto dos fornecedores e premiando aqueles
que procederam a actualizações menos significativas". |