Público - 14 Jan 03
Propostas Multas a Sério para Tirar Violência da TV
Por E.V.
Fazer com que o "crime" não compense é uma das soluções sugeridas pelos
convidados que ontem discutiram o excesso de violência na TV, numa audição
pública promovida pelo CDS-PP na Assembleia da República. Ou seja, aplicar
coimas de montante expressivo e ameaçar com a cassação das licenças às estações
reincidentes no desrespeito pela lei.
A presidente da Cruz Vermelha Maria Barroso, a deputada social-democrata e
ex-jornalista Maria Elisa e o jornalista Mário Crespo foram os intervenientes de
um debate em que as crianças e outros públicos mais desprotegidos foram
considerados vítimas dos abusos dos operadores. Mário Crespo lembrou que o
espaço hertziano, apesar de dominado por agentes privados, é "tão público como o
território nacional" e que os telespectadores, sobretudo os mais jovens, estão
expostos aos conteúdos televisivos muitas horas por dia segundo um estudo que
citou relativo aos Estados Unidos, as crianças passam uma média de 25 horas por
semana diante do televisor. "Ao fim dos primeiros quatro anos de escola, os
meninos já assistiram, em média, a oito mil assassínios e a 10 mil actos de
violência envolvendo humanos", contou, sublinhando ainda que, na vertente
sexual, os programas habitualmente exibidos estão a "desgastar a capacidade dos
pais e educadores de promoverem comportamentos responsáveis nesta área".
Maria Elisa recordou que só quando foi directora de programas da RTP se deu
realmente conta das constantes mensagens violentas que a televisão difunde,
inclusivamente nos programas para crianças ou para toda a família. Para combater
esses excessos, a deputada propõe que "todas as TV divulguem as suas cartas
deontológicas", que "todos os programas sejam classificados" e que a exibição de
pornografia e violência, incluindo a promoção desses programas, seja proibida
até determinada hora, aplicando-se coimas muito pesadas. Àqueles que consideram
que são a família e a escola a criar seres violentos - e não a TV - Maria
Barroso responde que "se a TV não fosse susceptível de influenciar, não se
investiam milhões em publicidade televisiva".
Pretextos para o PP sublinhar aspectos que pretende alterar na Lei da TV: criar
novo sistema sancionatório mais dissuasor, com coimas mais elevadas e sanções
acessórias, que podem ir à suspensão da emissão ou mesmo da licença.

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