Fórum da Família - 04 Jan 03

Correlações pílula-cancro da mama

 

            O modo de actuação das pílulas anticonceptivas baseia-se na supressão do ciclo hormonal ovárico mediante a ingestão diária de doses das hormonas – estrogéneo (normalmente o estradiol) e progesterona – muito semelhantes às que, naturalmente, seriam produzidas pelos ovários para actuar no útero. Desta forma, o ciclo uterino passa a ser alimentado pelas hormonas contidas nas pílulas e não pelas que os ovários produzem, funcionando à revelia do ciclo ovárico, que fica interrompido, não havendo, por isso, ovulação.

            Algumas correlações estatísticas têm sido estabelecidas entre o consumo da pílula e a incidência de cancro na mama.

            Um estudo realizado na Grã-Bretanha em fins dos anos 80 e publicado na revista “The Lancet” de Maio de 1989, sugere que a ingestão da pílula contraceptiva aumenta notavelmente o risco de adquirir cancro da mama, sobretudo em mulheres jovens.

            A metodologia desta investigação assentou na recolha de dados durante 4 anos em 11 áreas geográficas britânicas. O universo populacional estudado envolveu todas as mulheres residentes nessas áreas (1049), nas quais foi diagnosticado cancro da mama antes de completarem 36 anos, no período de 1982-1984.

            A investigação foi dirigida pelo professor Malcolm Pike, ex-director do departamento de epidemiologia do Imperial Cancer Research Fund, com a colaboração de professores de Oxford e do instituto de investigações do cancro em Londres.

            O estudo verifica que existe maior incidência de cancro na mama em mulheres (neste caso até aos 36 anos) que utilizam a pílula do que nas outras mulheres. A idade mais perigosa, de maior risco, vai desde a puberdade até aos 20 anos. As mulheres que tomam a pílula durante 4 anos nesta fase da sua vida aumentam em 40%  a probabilidade de contrair cancro da mama antes dos 36 anos. Esta probabilidade aumenta para 75% para as que utilizam a pílula durante 8 anos. Os autores do estudo concluem: “A explicação mais simples e plausível é que existe uma substancial relação causal entre o uso prolongado de contraceptivos orais e o risco de cancro nas mulheres jovens”.

            Os resultados desta investigação foram confirmados por outros estudos realizados na mesma altura nos Estados Unidos.

            No primeiro deles, o Dr. Sidney Shapiro (Boston University School of Medicine), salientou que o índice de cancro na mama entre as mulheres que tomam a pílula é, pelo menos, o dobro do índice observado para as que não a tomam, e que o risco aumenta com o tempo de uso, o que corrobora os resultados britânicos.

            Por outro lado, um relatório do Dr. Clifford McKay (Universidade de Manchester), mostrou que as mulheres que recorrem à pílula e que têm apenas um filho estão três vezes mais expostas a contrair este tumor antes dos 35 anos.

            No terceiro estudo, realizado pelo Dr. Bruce Stadel (Food and Drugs Administration), chegou-se à conclusão de que as mulheres sem filhos que tomaram a pílula durante 8 a 11 anos contraíram o cancro da mama numa proporção quatro vezes superior à média.

            O “New York Times” de 9 de Janeiro de 1989 referia-se a esta correlação da seguinte forma: “O aumento do cancro da mama começou a notar-se há 28 anos, quando nos Estados Unidos já se estava a difundir o uso da pílula e, desde então, não parou de aumentar.