Jornal de Negócios  - 11 Fev 09

 

Eduardo Catroga
"A grande medida seria o Estado pagar as dívidas aos seus fornecedores"
Elisabete de Sá

 

Eduardo Catroga disse hoje que o reforço das linhas de crédito para as pequenas e médias empresas é uma medida positiva, mas mais importante seria o Estado pagar “as dívidas aos seus fornecedores”. O antigo ministro das Finanças assinalou que esta é uma das piores décadas para Portugal e criticou as PPP.

 

No Congresso da Associação Portuguesa das Empresas Familiares, Catroga adiantou que as linhas de crédito às PME, anunciadas pelo Governo, “são muito bem vindas. Mas para fazer face à crise, a grande medida seria o Estado comportar-se como pessoa de bem e pagar as dívidas aos seus fornecedores”.

 

As declarações foram efectuadas antes do primeiro-ministro ter revelado que o pagamento do Estado aos fornecedores totaliza 1,4 mil milhões de euros.

 

O antigo ministro reforçou que “esse pagamento deveria ser imediato. E para moralizar a economia, não deveria exceder os 60 dias no prazo normal de pagamento”.

 

“Isso aliviava a tesouraria das empresas e introduziria liquidez no sistema”, justificou.

 

“Há uma estagnação do nível de vida em relação à Europa desenvolvida”

 

Sobre a actual situação da economia portuguesa, Catroga adiantou que “esta é uma das piores décadas de Portugal em termos de crescimento económico e social”.

 

“Há uma estagnação do nível de vida em relação à Europa desenvolvida. Há uma crise conjuntural internacional, mas não nos podemos iludir, pois o país tem uma crise estrutural e não pode meter a cabeça na areia”, adiantou.

 

Para Catroga, “o fraco crescimento da produtividade é a raiz dos nossos males. A evolução do défice externo e da dívida externa são o reflexo dessa falta de competitividade”.

 

Ainda sobre a crise, alertou que Portugal, ao contrário da Espanha, “não tem grande margem de manobra para a execução de políticas orçamentais anti-crise”.

 

PPP vão custar caro aos contribuintes

 

No mesmo evento, Eduardo Catroga assinalou que as “parcerias público-privadas irão custar caro aos contribuintes”.

 

“Já ascendem a pelo menos 12% do PIB em 2008” e “o Estado, em vez de estar a investir no tecido produtivo, está a incentivar os grandes grupos a investirem em parcerias, como as concessões rodoviárias e hospitais”

 

Para Catroga, “o problema é que o Estado está a assumir cada vez mais os riscos comerciais dessas parcerias, fazendo com que esses riscos fiquem nas mãos dos contribuintes para o futuro”.

 

O antigo ministro deu um exemplo: “Temos um sector público dos transportes que tem uma dívida anual que é 1% do PIB continuamos a projectar obras como a linha do TGV Lisboa-Porto, que só faz sentido quando a actual ligação estiver saturada”.