Eduardo Catroga "A grande medida seria o Estado pagar as dívidas
aos seus fornecedores" Elisabete de Sá
Eduardo Catroga disse hoje que o reforço das linhas
de crédito para as pequenas e médias empresas é uma
medida positiva, mas mais importante seria o Estado
pagar “as dívidas aos seus fornecedores”. O antigo
ministro das Finanças assinalou que esta é uma das
piores décadas para Portugal e criticou as PPP.
No Congresso da Associação Portuguesa das Empresas
Familiares, Catroga adiantou que as linhas de
crédito às PME, anunciadas pelo Governo, “são muito
bem vindas. Mas para fazer face à crise, a grande
medida seria o Estado comportar-se como pessoa de
bem e pagar as dívidas aos seus fornecedores”.
As declarações foram efectuadas antes do
primeiro-ministro ter revelado que o pagamento do
Estado aos fornecedores totaliza 1,4 mil milhões de
euros.
O antigo ministro reforçou que “esse pagamento
deveria ser imediato. E para moralizar a economia,
não deveria exceder os 60 dias no prazo normal de
pagamento”.
“Isso aliviava a tesouraria das empresas e
introduziria liquidez no sistema”, justificou.
“Há uma estagnação do nível de vida em relação à
Europa desenvolvida”
Sobre a actual situação da economia portuguesa,
Catroga adiantou que “esta é uma das piores décadas
de Portugal em termos de crescimento económico e
social”.
“Há uma estagnação do nível de vida em relação à
Europa desenvolvida. Há uma crise conjuntural
internacional, mas não nos podemos iludir, pois o
país tem uma crise estrutural e não pode meter a
cabeça na areia”, adiantou.
Para Catroga, “o fraco crescimento da produtividade
é a raiz dos nossos males. A evolução do défice
externo e da dívida externa são o reflexo dessa
falta de competitividade”.
Ainda sobre a crise, alertou que Portugal, ao
contrário da Espanha, “não tem grande margem de
manobra para a execução de políticas orçamentais
anti-crise”.
PPP vão custar caro aos contribuintes
No mesmo evento, Eduardo Catroga assinalou que as
“parcerias público-privadas irão custar caro aos
contribuintes”.
“Já ascendem a pelo menos 12% do PIB em 2008” e “o
Estado, em vez de estar a investir no tecido
produtivo, está a incentivar os grandes grupos a
investirem em parcerias, como as concessões
rodoviárias e hospitais”
Para Catroga, “o problema é que o Estado está a
assumir cada vez mais os riscos comerciais dessas
parcerias, fazendo com que esses riscos fiquem nas
mãos dos contribuintes para o futuro”.
O antigo ministro deu um exemplo: “Temos um sector
público dos transportes que tem uma dívida anual que
é 1% do PIB continuamos a projectar obras como a
linha do TGV Lisboa-Porto, que só faz sentido quando
a actual ligação estiver saturada”.