Aceprensa.pt - 7 Fev 08

 

Os Estados Unidos renovam as gerações, a Europa não

 

A Europa tenta incentivar, com ajudas. Os Estados Unidos conseguiram-no sem apoios

 

É gritante o contraste entre a evolução da natalidade nos Estados Unidos e na Europa. Nos Estados Unidos, sem medidas especiais de apoio por parte do Estado, a taxa de fecundidade em 2006 subiu para 2,1 filhos por mulher, o que assegura a reposição geracional e atinge o nível mais elevado registado nos últimos 35 anos. Em contrapartida, na União Europeia, a taxa de natalidade atinge, apenas, 1,5, apesar dos governos multiplicarem as medidas de apoio.

 

 

Os primeiros dados de 2006, fornecidos pelo Centro Nacional de Estatística dos Estados Unidos, revelam que, pela primeira vez desde o baby boom do pós-guerra, a fertilidade assegura a substituição de gerações.

 

A população dos Estados Unidos alcançou, no ano passado, os 300 milhões de habitantes e continua a aumentar.Os especialistas atribuem à tranquilidade económica anterior à crise que, agora, se avizinha, ao contributo demográfico dos imigrantes e à melhoria das condições laborais das mães trabalhadoras.

 

De qualquer maneira, este novo baby boom contribui para uma evolução económica positiva do país e reforça a sua competitividade internacional. As novas gerações, mais numerosas, garantem a existência, no futuro, de mais trabalhadores e mais contribuintes no activo para assegurar as pensões dos reformados.

 

Há quem considere também que as diferenças de natalidade entre os diversos estados podem ser um factor decisivo nas próximas eleições presidenciais. Phillip Longman, investigador da New American Foundation, escreve que, de há cerca de vinte anos para cá, a demografia é mais favorável para republicanos do que para os democratas.

 

Os estados que mais votam nos conservadores são os que têm uma taxa de fecundidade mais elevada, enquanto que, os estados mais favoráveis aos democratas são os que têm menos filhos.

 

Nas eleições de 2000 e de 2004, Bush triunfou nos 19 estados em que a taxa de fecundidade é mais alta. Pelo contrário, o candidato democrata, John Kerry, venceu nos 16 estados situados no fundo da tabela. De acordo com os cálculos de Longman, há uma co-relação de 0,84 entre taxa de fecundidade e opção de voto, o que seria suficiente para efeitos estatísticos.

 

Salário parental na Alemanha

 

Pelo contrário, a Europa começa a perceber que a escassa fecundidade ameaça o seu futuro e muitos governos já começaram a tomar medidas para incentivar a natalidade. Na Alemanha, com uma taxa de natalidade de, apenas, 1,33. Ângela Merkel arvorou esta bandeira desde o início do seu governo e, também, a própria sociedade civil está em campanha para conseguir que as famílias «aceitem» mais filhos. Já começa a ver-se alguns frutos. Nos primeiros sete meses de 2007, segundo o Instituto Nacional de Estatística, registou-se um aumento de 1% nos nascimentos e relação a igual período do ano anterior. É a primeira vez que isto acontece desde 1997 vamos ver se esta tendência se confirma.

 

Desde o início de 2007, ao ter um filho, os alemães podem interromper o seu trabalho até doze meses e os pais recebem um ordenado de 67% do seu salário líquido com um máximo de 1.800 euros e um mínimo de 300.

 

Uma das surpresas desta licença parental é que os pais pediram mais do que era esperado. Evidentemente, são as mulheres – que representam 90,4% das licenças – as que, na sua maioria, interrompem o trabalho depois do nascimento de um filho. Contudo, 37.140 pais – 9,6% do total de pedidos – escolheram a licença nos nove primeiros meses de 2007. A ministra da Família, UIrsula von der Leyen, teve que pedir um montante superior ao orçamentado para satisfazer estes pedidos.

 

Despertou a atenção o facto de que os homens que escolhem interromper o trabalho são, sobretudo, os que têm títulos universitários ou são trabalhadores qualificados. Entre os que pedem a licença, 44% escolherem uma interrupção profissional entre os 3 e 12 meses.

 

A maternidade cada vez mais tardia

 

A França mantém, há décadas, uma das políticas de subsídios familiares mais elevadas da Europa. Isto faz com que, presentemente, tenha uma taxa de fecundidade de 1,9, seguida, apenas, pela Irlanda (1,99). Apesar de tudo, a referida taxa é inferior ao nível de substituição de gerações.

 

Como em toda a Europa, a generalização dos métodos anticoncepcionais – há quatro décadas – provocou um decréscimo das famílias numerosas. Contudo, o que distingue a França é que entre as mulheres nascidas em 1960, 21,9% delas tiveram três e 9,7%, quatro ou mais. O mais vulgar é a família com dois filhos que, nos últimos trinta anos, passou de 25% para 40%.

 

O nascimento dos filhos é cada vez mais programado. Presentemente, os nascimentos que os pais consideram «bem programados» ascendem a 83% do total (cfr. O estudo publicado no Le Monde 28.12.2007). Com o planeamento familiar alargou-se, também, a intolerância à gravidez não desejada ou não aceite pelo casal. Por isso, apesar da expansão dos métodos contraceptivos, todos os anos são feitos 200.000 abortos. De acordo com inquérito feito pelo INED, duas de três gestações não desejadas dão-se no caso das mulheres que usam contraceptivos e 23% e 23% dos abortos às que usam a pílula.

 

Em Espanha, desde o dia 1 de Julho passado, cada recém-nascido vem com um cheque-bébé de 2.500 euros, «debaixo do braço», que vai até 3.500 se nascem em famílias numerosas (de três ou mais filhos) ou monoparentais. Contudo, é cedo ainda para avaliar se esta nova medida do governo de Zapatero consegue elevara taxa de fecundidade, que, presentemente, não ultrapassa 1,32. Esta taxa tem vindo a aumentar ligeiramente, mas é muito diferente entre as mulheres espanholas (1,27) e as estrangeiras residente (1,67). Actualmente, 15% dos nascimentos são de mães estrangeiras.

 

Todavia, o cheque-bébé não é o único incentivo que pode influenciar a natalidade. Uma das causas da baixa natalidade é o retardamento da maternidade, pois a idade média para o primeiro parto, passou para 29,3 anos. Este adiamento faz com que as mulheres tenham menos filhos do que desejariam de acordo com as estatísticas. Em 2005, os nascimentos de um terceiro filho constituíram 7,56% do total e os do quarto ou mais, 2,39%. Deste modo, há mais crianças espanholas que não têm irmãos.

 

O adiamento da maternidade leva, também, à existência de mais problemas de fertilidade. A partir dos 35 anos, a qualidade e quantidade dos óvulos começam a baixar e, a partir dos 37, sofrem uma quebra drástica. Nos últimos quatro anos, quase 30% das mulheres que pediram tratamentos para a infertilidade tinham mais de 38 anos.