Pais de classe média gastam em média entre 236 e
678 euros por mês com cada filho
Uma equipa de psicólogos de Coimbra fez as contas
para saber quanto custa ser "bom pai" e concluiu que
nos primeiros 25 anos de vida cada família de classe
média-baixa gasta, em média, 236,446 mensais com
cada filho.
"Até aos 25 anos de idade, uma criança nascida numa
família da classe média baixa "custa", em média
236,446 euros", referiu à Lusa Raquel Viera da
Silva, a psicóloga que juntamente com Ana Rita Silva
e sob orientação de Eduardo Sá, fez as contas para
saber "quanto custa ser bom pai" em Portugal.
Os números foram apresentados no 1º Congresso
Internacional em Estudos da Criança (IEC), que
terminou ontem na Universidade do Minho, em Braga.
Tendo por base números apresentados pelo economista
Barbosa de Melo, a equipa de psicólogos de Coimbra
imaginou a vida de duas famílias da classe média, de
rendimentos diferentes, e somou as despesas.
"Também tivemos atenção à estimativa dos rendimentos
perdidos", disse Raquel Vieira da Silva. Como
"rendimentos perdidos", foram considerados "o valor
das horas que os pais despenderam com os filhos e
que poderiam ter usado para investir na sua carreira
profissional, enriquecendo o currículo com formações
que lhes permitiriam subir no quadro da empresa ou
efectuando horas extra que lhes permitiriam
engrossar o salário".
Numa família de classe média baixa, nos primeiros 25
anos de vida de um filho, os pais terão gasto cerca
de 236,446 euros em fraldas, médicos, comida, roupa,
desporto, livros, propinas e mensalidades escolares.
Numa família de classe média alta, cada filho, até
aos 25 anos, custará 678,875 euros.
"Há uma grande disparidade entre o dinheiro gasto
com as prestações da casa e do carro e o dinheiro
gasto com os filhos", referiu ainda a psicóloga.
"As coisas que não têm preço, como brincar com os
filhos, são desvalorizadas e compensadas com roupas
e brinquedos", concluiu a equipa coordenada por
Eduardo Sá.
Contas feitas, há números que não é possível
contabilizar como "tudo de que se tem de abdicar ao
assumir" ser pai.
"Temos noção de quanto custa criar um filho mas não
é possível saber quanto custa ser um bom pai",
frisou Raquel Vieira da Silva.
A equipa imaginou duas famílias: uma com um
rendimento mensal de mil e oitocentos euros e outra
com um rendimento mensal de quatro mil duzentos e
cinquenta euros.
Durante 36 anos de trabalho (considerado o tempo
médio de vida laboral de uma família), a família
mais "pobre" terá gasto cerca de 26% do orçamento
familiar com um filho.
No mesmo período de tempo, a família com maiores
rendimentos terá gasto 31% do orçamento.
"Constamos que cada vez há menos crianças, em parte
porque os pais procuram a situação ideal para ter
filhos mas, sobretudo, por questões económicas",
refere o estudo coordenado pelo psicólogo infantil
Eduardo Sá.
"Das incontáveis fraldas descartáveis aos primeiros
livros escolares, ao pagamento das propinas, às
horas de espera pela consulta do pediatra, ao tempo
gasto em serviço de motorista para as inúmeras
actividades extra-curriculares, a aplicação de
capital é constante. E isto, sem avaliar o que, em
economia, se chama o 'custo de oportunidade', isto
é, as vantagens que perdemos por não escolhermos
outro caminho que não o de ser pai", disse Raquel
Vieira da Silva.