Fecho de urgências leva milhares à rua em
protesto
Joana de Belém
A ponte romana de Chaves, ex-líbris da cidade,
'juntou-se' ao protesto dos milhares de habitantes
do Alto Tâmega contra a desclassificação das
urgências do hospital da capital do concelho e o
encerramento da urgência do centro de saúde Vila
Pouca de Aguiar. Mesmo ao longe, era possível
vislumbrar os magotes de pessoas que a atravessavam
numa marcha lenta que ontem atravessou a cidade e
rumou à fronteira com Espanha, em Vila Verde de
Raia, onde bloquearam o trânsito durante duas horas.
Uma autêntica romaria de populares, autarcas,
associações de Chaves e vários de carros de
bombeiros concentrou-se no Jardim das Freiras, no
centro da cidade, empunhando palavras de ordem como
"Senhores ministros, tirem-nos tudo e venham morar
para este paraíso", "Urxencias em Verin" ou
"Socorro... ajudem o hospital!" como forma de
contestar a conversão da urgência do hospital local
de médico-cirúrgica para básica. Gente chegada de
todos os seis municípios do Alto Tâmega, acompanhada
pelos respectivos autarcas, protestou bem alto
contra a proposta da Comissão Técnica de Apoio ao
processo de Requalificação das Urgências.
Num discurso ouvido por cerca de cinco mil pessoas,
o presidente da Câmara de Chaves fez um apelo
directo a Correia de Campos, ministro da Saúde, e
aos peritos que elaboraram a proposta, para
percorrerem "os mais diversos acessos e as mais
remotas estradas e caminhos do Alto Tâmega". Uma
forma, diz João Baptista, de "perceber que a
população de algumas localidades já fica actualmente
a mais de 45 minutos de distância da urgência e que
a que separa esta cidade de Vila Real é superior a
70 quilómetros", mesmo depois da abertura da
auto-estrada.
Cidade e acessos completamente entupidos, os
manifestantes circularam em marcha lenta pela
Estrada Nacional 2 até à fronteira com Verín,
criando uma mancha automobilística de cerca dez
quilómetros de extensão. "Está na hora, está na
hora, do ministro ir embora!", gritou-se já junto a
Espanha. "A gente trabalha tanto aqui na região e,
no final, tem alguma coisa? Certos só os impostos",
reclamava Zulmira Pimentel, acrescentando: "Querem
fechar-nos uma porta que é de todos nós!" Assim como
outros populares, esta moradora de Chaves garante
que "Vila Real, nunca!" "Se tiver de morrer a
caminho do hospital morro em Verín, que é aqui mais
perto", disse ainda, antes de explicar que já tem o
Cartão Europeu de Saúde.
Apesar do protesto ter decorrido de forma pacífica,
era grande o descontentamento dos manifestantes,
visível em comentários como "Entreguem-nos a
Espanha!". Aliás, o empunhar de uma bandeira do país
vizinho foi momento que suscitou uma mais intensa
salva de palmas.
Vila Pouca de Aguiar. Ribeira de Pena, Boticas,
Valpaços e Montalegre também se juntaram ao
protesto. Fernando Rodrigues, presidente deste
último município, diz que, apesar da urgência da sua
cidade ser a única reforçada (com pessoal técnico),
não chega. "Se há uma situação mais grave o doente
tem de ser transportado para Chaves, se encerra,
para onde vão?", questiona (Vila Real dista cerca de
96 quilómetros).