Público - 9 Fev 07

 

"Sim" à frente mas com margem mais reduzida em relação à última sondagem

 

O "sim" está em quebra. Embora nem todos os votos perdidos do "sim" tenham passado para o outro lado da barricada, a sondagem da Intercampus, para o PÚBLICO, TVI e Rádio Clube Português, indica que os últimos dias da campanha do "não" conseguiram cativar jovens adultos, casados e até alguns apoiantes do Bloco de Esquerda. Por Nuno Sá Lourenço

No limiar da vitória do "sim", esta é a leitura que se pode fazer da sondagem da Intercampus para o PÚBLICO, TVI e Rádio Clube Português. 54 por cento de intenção directa de voto manifesta-se a favor do "sim", enquanto 33 por cento diz ir votar "não".
A sondagem indica uma perda de intenção de voto no "sim". Na anterior sondagem essa resposta chegava aos 60 por cento. Uma vez que a margem de erro da sondagem se situa nos 2,5 por cento, o "sim" fica muito próximo dos 50 por cento. Além disso, é preciso ter em conta que a sondagem acabou de se realizar na passada terça-feira, não abrangendo os últimos três dias de campanha. Ou seja, a aparente certeza de vitória garantida, pode não ser tão certa assim.
A Intercampus detectou ainda um dado significativo. O "sim" perdeu mais terreno nos adultos com idades compreendidas entre os 25 e 34 anos. A campanha do "não" parece ter conseguido mudar a opinião de um número significativo destes jovens adultos.
Na anterior sondagem, neste escalão etário o "sim" chegava aos 71 por cento. Agora já só se fica nos 53 por cento. Destes 18 por cento, uma parte importante aparenta ter passado para o "não", uma vez que entre estes votantes o "não" subiu de 21 para 32 por cento. Uma subida de 11 por cento.
A sondagem parece apontar ainda onde estão os que mudaram de opinião nos últimos dias. O "não" conseguiu fazer mudar de opinião entre os casados pelo civil e as pessoas que vivem em união de facto. Entre os primeiros, o "não" sobe de 24 para 32 por cento desde a anterior sondagem. Entre os "juntos", o "não" sobe dos 17 para os 25 por cento.
Outra variável que obriga à contenção é o valor apresentado para abstencionistas. Apenas 11 por cento não votaram na sondagem. As taxas de abstenção são tradicionalmente mais elevadas em Portugal. Aliás, é precisamente essa tendência para a elevada abstenção que tornou os dois referendos realizados em 1998, despenalização e regionalização, não viculativos, uma vez que não votaram cinquenta por cento mais um dos eleitores.
Há ainda outro factor que aponta para uma possível maior penalização do "sim" através do fenómeno da abstenção. É que, da última sondagem para esta, desceu o número de votantes do "sim" que afirmaram ser sua intenção "votar de certeza" (desceu dos 69 para os 62 por cento). Pelo contrário, subiu o valor do "não" que vai votar de certerza (26 para 38 por cento).
Além do mais, o método de trabalho da Intercampus também conta. Os inquiridos foram colocados perante uma urna de voto, numa entrevista presencial. As pessoas sentem-se coagidas a votar, perante o entrevistador.

Reticentes em aceitar
pobreza como justificação
A sondagem tentou ainda perceber quais os motivos que levam os portugueses a aceitar o aborto. A falta de recursos não parece ser uma justificação aceitável. Subiu o número de inquiridos que consideram que "não deveria ser autorizada" a interrupção voluntária da gravidez (IVG) nesse caso. Também se tornou inaceitável para um número superior de inquiridos que uma mãe aborte só porque não deseja ter um filho.
Em contrapartida subiu o número de pessoas que consideram que "deveria ser autorizada" a IVG em caso de risco para a saúde psíquica da mãe, a saúde física ou em caso de violação. Sobre a condenação de mulheres, os inquiridos voltaram a expressar-se, quase maioritariamente, contra as penas de prisão nos casos em que o aborto seja ilegal. 45 por cento acham que nem "a mulher que aborta" nem "a pessoa que provocou o aborto" devem ser sujeitas a pena de prisão. Ainda assim, um terço dos inquiridos respondeu que "ambas" deviam ser sujeitas a penas de prisão.
Apesar de tudo, os inquiridos nesta sondagem parecem ter ficado com a convicção de que a campanha os ajudou a decidir. Subiu o número de inquiridos - passou de 73 para 79 por cento - que consideram ter "uma ideia perfeitamente clara sobre se devem votar "sim" ou "não"". Aumentou igualmente a percentagem de inquiridos que assumiram um "interesse muito grande" pela questão. Numa escala de zero a dez, 66 por cento optaram por colocar a questão do 7 até ao 10 (dez significando interesse muito grande).

"Não" sobe entre
apoiantes do BE
O cruzamento de respostas sobre o referendo com as intenções de voto nos partidos indica ainda uma perda de votos do "sim" surpreendente. Ainda que não tenha muito peso, não deixa de ser assinalável o comportamento dos eleitores do BE. O "sim" desce dos 89 para os 75 por cento. Mais compreensíveis são os valores entre o eleitorado de direita. O "não" cresce tanto no PSD como no CDS. No PSD, o "não" passou dos 42 para os 53 por cento. No CDS, o "não" subiu dos 41 para os 66 por cento.