Diário de Notícias - 8 Fev 07

 

Marcelo alerta para "varinhas de condão"

Pedro Correia

 

Nenhuma varinha de condão fará acabar o aborto clandestino. O Serviço Nacional de Saúde não tem condições para concretizar o paraíso prometido pela pergunta que vai a referendo." Esta frase valeu várias palmas a Marcelo Rebelo de Sousa num jantar ontem organizado em Lisboa por iniciativa do movimento Independentes pelo Não. Um jantar em que participou o pedopsiquiatra Pedro Strecht, que votou "sim" no referendo de 1998. "Para mim, nesta fase, os argumentos do 'não' são mais válidos do que os do 'sim'", justificou Strecht ao DN.

Marcelo era a figura mais aguardada pelos 180 participantes: fez-se esperar na noite chuvosa e quando chegou desdobrou-se em cumprimentos. A Maria do Rosário Carneiro, deputada independente pelo PS. À fadista Kátia Guerreiro, que foi mandatária de Cavaco Silva para a juventude. Ao treinador do Benfica, Fernando Santos. À escritora Maria João Lopo de Carvalho. E ao estado-maior do PSD, que estava quase em peso - do vice-presidente Azevedo Soares ao secretário-geral Miguel Macedo, passando pelo líder parlamentar, Luís Marques Guedes. Só faltou o presidente, Marques Mendes.

Mesmo a propósito, Marcelo acentuou que a escolha neste referendo não é entre Governo e oposição, observando que esta campanha se tem "partidarizado e governamentalizado de mais". Lembrou que uma figura histórica da esquerda portuguesa, a falecida ex-primeira-ministra Maria de Lurdes Pintasilgo, apelou ao voto "não" no anterior referendo, realizado em 1998.

Marcelo aludiu a várias perguntas que lhe têm sido feitas pelos seus alunos do curso de Direito para fazer esta síntese: "Quem entender que não há vida dentro de uma mulher grávida até às dez semanas, ou faz de conta que essa vida não existe, vota sim; quem entender que os dois valores - a vida do feto e o interesse da mãe - devem ser ponderados, vota não."

Para o comentador, uma eventual vitória do "sim" liberalizará o aborto "sem nenhuma causa, sem nenhum fundamento, sem acompanhamento prévio ou período de reflexão", durante as dez primeiras semanas de gestação. E sem acabar com o aborto clandestino, pois o Serviço Nacional de Saúde "nem tem capacidade de resposta para atender aos casos previstos na lei actual".

No jantar falou também Rosário Carneiro, que - tal como Marcelo - defende a despenalização das mulheres sem que o aborto deixe de ser crime: "Se digo 'sim', protejo a mãe mas ignoro o filho; se digo 'não', defendo o filho e tenho o dever de promover medidas reparadoras à mulher."