Público - 15 Fev 06

 

governo fala em mais justiça fiscal

Redução nas taxas de retenção de IRS já estava prevista desde 2005

João Manuel Rocha

Trabalhadores por conta de outrem
vão ter direito a mais alguns euros no final de cada mês mas verão o reembolso emagrecer no acerto de contas

A redução das taxas de retenção na fonte de imposto sobre o rendimentos das pessoas singulares (IRS), que ontem foi conhecida, estava prevista desde que, no Orçamento para 2005, as taxas do imposto baixaram. Metade do efeito da redução reflectiu-se nas tabelas de retenção do ano passado, aprovadas quando Bagão Félix era ministro das Finanças, e a outra vai agora fazer-se sentir.
Esse mesmo quadro é descrito no chamado "relatório Constâncio", documento elaborado para analisar a situação orçamental quando o Governo de José Sócrates substituiu o de Santana Lopes. Referindo-se às medidas com impacte na receita deste imposto, o documento afirmava que "são de destacar, em particular, a redução das taxas de IRS, incluída no OE 2005, sendo cerca de metade do efeito total reflectido na actualização das tabelas de retenção na fonte em 2005".

Ministro fala
de "justiça fiscal"
A tabela de retenções publicada pelo Governo leva a que as empresas baixem, já a partir deste mês, o valor retido na fonte referente ao IRS, o que vai permitir a muitos trabalhadores por conta de outrem receber mais no final de cada mês, embora mais tarde venham a ter direito a reembolsos inferiores àqueles a que estavam habituados.
A diminuição da taxa de retenção, ontem noticiada pelo Diário de Notícias, foi justificada pelo actual ministro das Finanças, Fernando Teixeira dos Santos, com razões de "justiça fiscal". "A alteração das tabelas impunha-se por razões de justiça fiscal. Não faz sentido estar a exigir aos portugueses que adiantem dinheiro ao fisco e vejam retidos montantes para além do imposto que deveriam pagar", disse, em Bruxelas, no final da reunião dos ministros de Economia e Finanças (Ecofin) da União Europeia. "Houve uma preocupação de ajustar o quadro de retenções à realidade tributária dos contribuintes, de forma a evitar que estes estejam indevidamente onerados através das retenções na fonte", afirmou ainda, citado pela Lusa.
Os reembolsos de IRS atingiram no ano passado cerca de dois mil milhões de euros, o que "quer dizer que os portugueses, através da retenção na fonte, adiantaram ao fisco dois mil milhões de euros", acrescentou ainda o ministro das Finanças, Teixeira dos Santos. O facto de esse dinheiro não entrar nos cofres do Estado não significa, por isso, uma perda de receitas e não implicará, de acordo com o ministro, "qualquer perturbação orçamental", adiantou.
De acordo com a nova tabela , as subidas de retenção na fonte acontecem apenas para casos de titulares de rendimentos acima dos dez mil euros mensais. Os pensionistas com deduções mais baixas pagarão um imposto superior em 2007.
f Solteiro
Ordenado de 1200 euros em 2005. Via a entidade patronal reter-lhe 13,5 por cento. Se este ano passar a ganhar 1236 euros, a taxa de retenção baixa para 12,5 por cento

f Casado
Agregado com dois titulares, com dois filhos. Remunerações de 2000 euros em 2005. A retenção era de 20,5 por cento. Se este ano os rendimentos passarem a ser de 2060 euros, a taxa de retenção baixa, mesmo assim, para 19,5 por cento

f Pensionista
Agregado com dois titulares. Pensão de 1500 euros em 2005. Tinha uma taxa de retenção de 9 por cento. Passando a receber 1545 euros, a taxa sobe para dez por cento

Fonte Ernst & Young/DN

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