Correio da Manhã - 12 Fev 06

País a envelhecer
Metade dos filhos em 20 anos

João Vaz

Três filhos era a fertilidade média em Portugal em meados dos anos 60. Quatro décadas depois, entre as mães famosas de 2005 apenas Ana Borges, directora da agência de modelos Elite, teve o seu terceiro filho. Em termos de maternidade, o nosso país convergiu na UE muito mais rapidamente do que noutros aspectos da economia, educação e saúde.

Na audição sobre ‘Desafios Demográficos’, Mário Leston Bandeira, professor de Sociologia do ISCTE, em Lisboa, e presidente da Associação Portuguesa de Demografia, salientou que a baixa da fecundidade foi em Portugal tardia, “devido às resistências à modernidade explicitamente assumidas pelo Estado Novo. A descida da natalidade – referiu –, iniciada em França a seguir à Revolução e na maior parte dos outros países europeus em finais do séc. XIX, começou a desenvolver-se em Portugal de maneira contínua apenas nos anos 1960. Nesta época o indicador de fecundidade era ainda de três filhos por mulher. Mas em 20 anos passámos para metade: 1,5 filhos por mulher.”

Para o sociólogo Leston Bandeira “este salto directo de uma sociedade dominante rural, conservadora e resistente à modernidade para uma sociedade moderna, urbana e aberta ao conhecimento e à mudança” constitui um processo dificilmente reversível, alterou as relações no plano da sexualidade, “libertou as mulheres da ditadura das sucessivas maternidades e abriu-lhes o caminho para a sua autonomia e o livre acesso ao mercado de trabalho”.

Os desafios demográficos revelam-se agora muito mais difíceis. E Leston Bandeira junta à baixa fecundidade mais dois: envelhecimento da população e declínio das regiões do interior como a zona do Pinhal onde há 257 idosos por 100 jovens ou a Beira Interior Sul onde há 229 por 100, onde “há risco concreto de desertificação” se o Estado não tiver novas políticas de gestão territorial.

OPINIÃO DE POLÍTICOS SOBRE OS DESAFIOS DEMOGRÁFICOS

"PELA VIDA FAMILIAR" (Joel Hasse Ferreira)

“Desenvolver esforços para identificar todos os obstáculos à promoção da família, tais como políticas fiscais, horários de comércio e acesso ao mercado da habitação, são prioridades a par dos sistemas de protecção social e serviços públicos de cuidados a criança para facilitar a vida familiar.”

"MEDIDAS FISCAIS" (Edite Estrela)

“Há necessidade de medidas fiscais que incentivem o aumento de natalidade, como ainda garantir às mulheres, após o parto, protecção e apoio específicos, nomeadamente no caso das solteiras, bem como criar estruturas de acolhimento de crianças de boa qualidade e a preços acessíveis.”

"SEM PRECONCEITOS" (Jorge Lacão)

“Não haverá políticas de natalidade com resultados se não pensarmos na autodeterminação da mulher e para além da sua vida familiar e profissional a vida pessoal e o direito a ser feliz. Sem preconceitos. Na Suécia, onde a taxa de fecundidade é alta, mais de 50% dos bebés nasce fora do casamento.”

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