Diário Económico -
10
Fev 06
Política
educativa tem de reconhecer a importância da família
DE com Lusa
O economista Pedro
Carneiro propôs hoje que as políticas educativas evoluam da lógica de aumento
dos recursos escolares para uma outra que reconheça o papel da família, ao
intervir durante uma conferência promovida pelo Banco de Portugal.

O banco central
está a realizar hoje, na Fundação Calouste Gulbenkian, a sua terceira
conferência bienal sobre o desenvolvimento económico português no espaço
europeu.
Pedro Carneiro, que lecciona na University College, de Londres, salientou que a
desigualdade no nível de educação contribui substancialmente para a desigualdade
social, vista tanto na perspectiva de remuneração como na própria possibilidade
de encontrar emprego.
O economista lembrou que, da população em idade de trabalhar (15-65 anos), os
que estiveram matriculados na universidade são menos de 10%, enquanto que, no
outro extremo, 64% têm seis anos de escolaridade no máximo.
A ilustrar a tese de que a maior parte dos trabalhadores com baixos salários tem
baixos níveis de educação está o facto de 90% dos trabalhadores que têm um
salário mensal líquido inferior a 310 euros, com referência a 2004, têm seis
anos de escolaridade no máximo.
Da mesma forma, dos que ganham até 600 euros - que era o salário mediano - 74%
têm até seis anos de escolaridade e 98% até 12 anos.
[O salário mediano é o que divide a população em duas partes iguais, o que
significa que metade da população ganhava até 600 euros e a outra metade acima
deste valor.]
Em síntese, Carneiro diz que "há um laço claro entre pobreza e falta de
capacidades" [escolares].
Para quebrar esta ligação, recomenda uma outra política educativa, devido às
conclusões a que chegou ao estudar o que está por detrás da desigualdade da
educação.
Em substância, apurou que "crianças que nascem em famílias onde os pais têm
elevados níveis de educação beneficiam de um conjunto de oportunidades mais
vasto do que as crianças que nascem em famílias onde os pais têm baixos níveis
de educação".
Esta educação parental, pormenoriza, está associada não só com rendimentos
familiares mais elevados, mas também com melhores ambientes escolares e
familiares.
Como está, acusa, a educação contribui para a desigualdade inter-geracional, uma
vez que cria desigualdade de oportunidades em crianças de diferentes famílias.
Pedro Carneiro propõe, em consequência, que se pense na política educativa em
termos que não fiquem confinados ao contexto da escola e da sala de aula, nem ao
aumento dos recursos educativos.
A consideração da família, dos ambientes familiares como instituição social
fundamental na educação e uma intervenção nas idades pré-escolares, quando a
influência da família é maior, foram as sugestões feitas.
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