Público -
10
Fev 06
reflexão sobre resultados no exame
Alunos mal preparados e programas extensos ajudam
a explicar notas a Matemática
Isabel Leiria
Professores da disciplina de mais de 1200 escolas
foram chamados a analisar as causas do fraco
desempenho dos estudantes nas provas do 9.º ano
estreadas em 2005
As causas mais relevantes para os
maus resultados no exame de Matemática do 9.º ano
encontram-se nos alunos: nas dificuldades
específicas que apresentam - na interpretação de
textos e na resolução de problemas, por exemplo - ou
ainda na ausência de hábitos de trabalho, na falta
de maturidade, de capacidade de concentração e
motivação. A transição de ciclos com negativa à
disciplina também não ajuda.
São pelo menos estes os factores mais frequentemente
apontados pela maioria das escolas e respectivos
professores do 3.º ciclo de Matemática para
justificar os maus resultados no exame da
disciplina, estreado no ano passado. Tão maus - a
média nacional ficou nos 37,6 por cento, com todos
os concelhos do país a apresentarem valores
negativos - que o Ministério da Educação apelou às
escolas para que efectuassem uma reflexão interna
sobre as causas do insucesso e as medidas que
poderiam tomar.
A análise foi realizada, numa primeira fase, no
interior de cada um dos mais de 1200
estabelecimentos de ensino onde se realizaram
provas, pelos delegados de disciplina e professores
de Matemática do 3.º ciclo, com a colaboração de
supervisores do Gabinete de Avaliação Educacional (Gave).
O relatório final do Gave ainda não está concluído
mas a compilação das análises feitas em 99 por cento
das escolas envolvidas já permite perceber alguns
dos diagnósticos mais comuns. Como aquilo que se
designou por "factores exteriores ao exame". A
saber: o insuficiente peso da prova na classificação
final dos alunos (o teste contou no ano passado 25
por cento, o que numa escala de 1 a 5 valores pouco
impacto tem) e "falta de seriedade na sua
resolução".
Difícil dar a matéria toda
A extensão excessiva do programa, acompanhada por
uma insuficiente carga horária a Matemática, é
também apontada como um grande obstáculo à melhoria
dos resultados. E contribui para que tenha havido
mais de mil referências a dificuldades no
cumprimento do programa.
De igual forma, o elevado número de alunos por turma
contribui de forma significativa para o mau
desempenho. Disso mesmo deram esta semana conta
alguns dos muitos professores presentes na última
reunião, em Lisboa, de apresentação dos resultados.
"Com turmas de 28 alunos como é que podemos pô-los a
investigar, a experimentar, a utilizar a sala de
informática?", lamentou uma das docentes presentes
no encontro. "Temos um laboratório de Matemática
super bem equipado mas não temos tempo de utilizá-lo
porque mesmo assim já temos dificuldade em cumprir o
programa", acrescentou outra professora.
Os números confirmam as dificuldades: 88 por cento
das escolas disseram nunca ou raramente usar o
computador para a disciplina da Matemática no 3.º
ciclo. Quase 90 por cento responderam que nunca ou
raramente pedem aos alunos trabalhos de investigação
e apenas um terço põe os alunos a realizar muitas
vezes exercícios que apelam ao raciocínio indutivo e
dedutivo.
Quanto à prova de exame propriamente dita -
enunciado, critérios de avaliação, desadequação da
realidade escolar ou demasiada exigência -, os
professores tendem a não encontrar aqui as
principais causas dos maus resultados. Já o estatuto
sócio-económico das famílias e a falta de
acompanhamento dos seus filhos são factores
frequentemente associados aos maus resultados.
No final do encontro ficava a expectativa dos
professores de que o tempo dedicado a esta reflexão
fosse de alguma utilidade. "Temos a sensação de que
alguém nos ouviu. Mas agora gostávamos de ver alguma
coisa mudar a partir daqui e de ter uma resposta por
parte do sistema. Se não, não valia a pena termos
perdido este tempo todo", resumiu uma professora.