Público - 8 Fev 04
Pergunta e Resposta
Como se forma o preço da água?
O preço que os consumidores pagam pela água que lhes chega às torneiras
varia essencialmente em função de dois parâmetros: o preço a que o líquido
é comprado, em alta, pelos serviços ou empresas municipais que fazem a
distribuição domiciliária e a estrutura de custos de cada um destes
"retalhistas". Se, conforme facilmente se perceberá, o segundo factor é
aquele que mais possibilidades de variação oferece, dependendo do número
de funcionários de cada empresa/serviço, dos custos de manutenção da rede
e mesmo das perspectivas de investimento que esta parcela é suposto
financiar, o preço da água adquirida à Águas do Douro e Paiva (empresa que
explora o sistema de captação e distribuição em alta desde 1998, tendo
substituído, para o efeito, os SMAS do Porto e de Gaia, que até aí
asseguravam a captação no Douro) é relativamente estável, pouco tendo
variado desde 1997. A ADP vende actualmente dada metro cúbico do líquido
que capta e trata a pouco mais de 27 cêntimos (24 cêntimos em 1997), valor
que não só está abaixo do valor a que se chegaria se, de 1997 para cá, o
preço tivesse sido actualizado pela inflação, mas é igualmente inferior ao
que estava previsto no contrato de concessão que a empresa assinou com o
Governo em 1996. A Águas do Douro e Paiva é, de resto e ao que o PÚBLICO
apurou, a empresa da "holding" Águas de Portugal que vende a água que
produz a um preço mais baixo. Neste aspecto, Espinho, Gaia, Porto,
Gondomar, Matosinhos, Valongo e a Maia estão, na Área Metropolitana do
Porto, em vantagem relativamente aos concelhos mais a Norte, Vila do Conde
e Póvoa de Varzim, que são abastecidos, em alta, pela Águas do Cávado (que
fornece também uma parte do concelho da Maia).
Quem decide sobre os aumentos?
Ao contrário do que sucede em alguns serviços básicos, como os
transportes, em que o montante dos aumentos é anualmente fixado por uma
portaria governamental, a actualização das tarifas da água é uma
competência exclusiva dos municípios, que não estão, assim, obrigados a
cumprir qualquer regra, optando, grosso modo, por fazer aumentos médios
indexados ao valor da inflação. Todavia, casos há em que os aumentos mais
recentes excederam este valor, invocando-se, nomeadamente, a necessidade
de harmonizar os preços no seio da AMP. Foi o que aconteceu recentemente
na Póvoa de Varzim, com aumentos na casa dos cinco por cento, ou em
Espinho. Aqui, o aumento foi precedido por um estudo do preço médio de
cada um dos escalões nos municípios da AMP, tendo-se verificado que os
preços praticados estavam muito abaixo desses valores. Assim, a autarquia
decidiu um aumento de cerca de 50 por cento do montante da diferença
existente entre os preços em vigor no concelho e a média metropolitana.
Porque não existe um tarifário único?
Escrito tudo isto, a pergunta que passará pela cabeça de quem tenha lido o
que aqui se escreveu não pode deixar de ser uma: porque motivo não se
harmonizam os tarifários e os preços dos diversos concelhos, permitindo
uma mais fácil comparação dos preços? Primeiro porque, sendo os nove
concelhos da área metropolitana abastecidos por empresas da "holding"
Águas de Portugal, a Águas do Douro e Paiva e a Águas do Cávado praticam
preços diferentes. Depois, explica Poças Martins, cada um dos serviços ou
empresas municipais de águas e esgotos tem estruturas de custos
completamente diferentes, com problemas e necessidades de financiamento
próprios. "Cada caso é um caso e não há razão nenhuma para que os
tarifários sejam iguais", diz o autarca de Gaia, recordando que a
estrutura de custos está dependente de valores tão diversos como as perdas
de águas sem facturação. |