Público - 14 Fev 03

Produtores de Leite Recusam-se a Pagar Multas de 15 Milhões
Por ROSA SOARES

Risco de falência para 30 por cento dos produtores. Em causa está a ultrapassagem das quotas fixadas por Bruxelas

Algumas centenas de produtores de leite manifestaram-se ontem, no Porto, contra o pagamento de multas pela ultrapassagem da quota de produção de leite fixada para Portugal. As estimativas apontam para o pagamento de 15 milhões de euros, a suportar directamente pelos produtores que ultrapassaram os limites fixados e que, segundo as organizações de produtores, designadamente a Confederação Nacional da Agricultura (CNA), pode
representar a falência de cerca de 30 por cento das explorações nacionais.

A manifestação de ontem, realizada no coração da "baixa" portuense, serviu ainda para reivindicar o aumento da quota nacional, actualmente nos 1.935.461 toneladas, um valor considerado manifestamente insuficiente tendo em conta o investimento realizado no aumento da produtividade das explorações agrícolas nacionais. A campanha deste ano termina a 31 de Março, prevendo-se que a quota seja ultrapassada em 50 mil toneladas.

Na opinião da CNA, o alargamento da quota nacional deve ser uma prioridade dos responsáveis políticos, particularmente o ministro da agricultura, junto da União Europeia. Enquanto este aumento não for conseguido, os agricultores querem que seja o Governo a assumir o pagamento das multas, de forma a evitar a falência de cerca de 30 por cento dos agricultores da região de Entre-Douro e Minho.

Durante a manifestação, os agricultores distribuíram simbolicamente garrafas de leite com rótulos adequados ao protesto, como "Produzir sim, pagar multas não" ou "Esta PAC é a ruína dos agricultores".

Os representantes dos produtores entregaram um documento reivindicativo no governador civil, onde exigem que o Governo consiga junto da UE um aumento de 100.000 toneladas na quota leiteira e incentive os portugueses a consumir mais leite e produtos lácteos. Reclamam ainda que o Governo compre a quantidade excedentária deste ano e a entregue ao Banco Mundial contra a Fome.

Os produtores de leite reivindicam também que o Governo negoceie junto da UE para que os Açores voltem a ser considerados uma região ultraperiférica e não conte para a quota nacional.

*com Lusa

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