O desemprego é o elemento mais dramático da crise.
Não só o impacto produtivo é terrível mas os seus
efeitos estão longe de ser apenas económicos ou
financeiros. Nos tempos que correm, a profissão faz
parte da identidade pessoal, e perdidas referências
espirituais ou ideológicas, muita gente coloca na
sua ocupação a própria razão de existir. Isso torna
terrível a evolução da taxa, que começou a subir em
2001 e atinge níveis históricos.
O sofrimento é grande, mas lidar com um mal destes
exige abandonar emoções e falácias, enfrentando de
forma clara e decisiva a questão. A única forma de
combater o desemprego é através de uma das coisas
mais simples e mais exigentes: mudar atitudes.
Primeiro é preciso compreender que estar
desempregado não é vergonha e pedir emprego é uma
honra. Dignificar a situação é meio caminho para a
resolver.
Depois há que recusar a armadilha política e
esquecer o uso da questão como munição na luta de
almofadas partidária que alimenta o ocioso circo
mediático. O desemprego é uma questão económica,
resolvida nas empresas, mercados e investimentos.
Neste processo, os programas estatais costumam
complicar mais que ajudam, mesmo quando se enganam
presumindo da própria eficácia. Os melhores governos
são os que estragam pouco, mas há muito que não
temos desses por cá.
O terceiro erro consiste em achar que os empregos
nascem nas árvores. Procura-se trabalho como numa
apanha de frutos em pomar rebuscado. Os empregos
primeiro criam-se, só depois podem ser ocupados.
Muitos desempregados deveriam lançar o próprio
negócio, sem acreditar na geração expontânea de
tarefas. Trabalhar é ser útil, criar valor. O mal
está na opinião pública, que começa por desprezar
empresários e gestores, tratando-os como
exploradores, parasitas ou pior. Depois, o Governo
persegue-os com impostos, regulamentos e
fiscalizações. No final, todos se surpreendem por
faltarem postos de trabalho.
Outro disparate é pensar que se trabalha no que se
quer, não no que é preciso. Não existe falta de
empregos em Portugal, que criou centenas de milhares
nos últimos anos. Esses trabalhos não agradaram a
nacionais e tiveram de vir multidões de emigrantes
para os ocupar. Mesmo com a crise persiste a falta
de trabalhadores em muitas funções. É difícil
encontrar canalizadores e electricistas enquanto
sobram advogados e professores. Para funções à
secretária há chusmas de candidatos, mas noutras
secções as disponibilidades são escassas. Ainda há
quem se indigne por já não ser verdade que o curso
superior garante emprego bom e fácil. Mas é assim há
mais de 20 anos. No antigo regime a escassez de
licenciados concedia-lhes facilidades momentâneas,
há muito desaparecidas. É tempo de compreender a
realidade e procurar estudos e formações úteis, não
pomposas. Aí o Estado só complica.
A quinta tolice é pensar que, porque o montante de
trabalho é fixo, os empregados tiram empregos aos
desocupados. Esta velha falácia é persistente,
apesar de sempre negada. É trabalhando que se gera a
necessidade de mais trabalho. Aqui não há partilha,
mas crescimento. Ou queda se, em vez de aumentar o
bolo, se lutar pela sua divisão.
Isto leva à estupidez suprema de considerar
obsoletas e fora de prazo pessoas de certa idade,
ainda com décadas de capacidade e eficácia à sua
frente. Usar a reforma para promoção do emprego é um
infame crime nacional, que estrangula empregos e
paralisa a economia. Também aqui o erro tem origem
histórica há muito inválida. Há décadas a saúde
precária recomendava reforma aos 60 anos, que na
altura era impossível. Hoje, podendo pagar, isso já
não é preciso porque as pessoas vivem válidas até
muito mais tarde. Políticos míopes usam o tema para
demagogia e criam problemas terríveis. O mais
espantoso é os próprios aceitarem a ociosidade e
inacção, na triste irrelevância que lhes custa tanto
quanto ao País.
Como o sistema económico funciona, não é fácil fazer
subir o desemprego. Mas, como se vê, é possível
atingir a catástrofe actual através de erros fortes
e consistentes.