O problema deste Natal é o de quase toda a gente
estar já convencida de que o próximo vai ser muito
pior e o de ninguém saber o que fazer para evitar
que isso aconteça.
O desânimo instalou-se em muitas caras, como se pode
ver nas costumadas reportagens das televisões sobre
as compras de Natal ou, entrando nas lojas e nos
supermercados, na expressão de muitas pessoas que se
cruzam connosco. Está tudo ao desbarato, mas não há
dinheiro. Essa perspectiva quotidiana é confirmada
pelas sondagens que tentam medir o grau de
pessimismo dos cidadãos e as suas expectativas para
o ano que vem.
Isto para não falar das novidades e previsões
negativas que vão afectando a economia global, das
falências, encerramentos e despedimentos em todos os
sectores da indústria, do comércio e dos serviços,
dos escândalos de que vai havendo notícia, dos seus
efeitos de dominó, do desmoronar dos grandes
impérios financeiros, das bolsas a encerrarem no
vermelho, da estridência das acusações de
accionistas, depositantes e aforradores, do
desemprego a crescer por toda a parte, da
incapacidade de prever a médio prazo, da falta de
esperança, sobretudo nos desempregados, da convicção
que se vai radicando nas almas de que o pior ainda
está para vir.
De facto, sabe-se que o pior está para vir. Até nas
economias emergentes, em que tanto apostavam as
economias ocidentais, as perspectivas são cada vez
mais negras e os riscos cada vez mais preocupantes.
Os especialistas não conseguem analisar a catástrofe
em todas as suas variáveis e todos os dias surgem
novas e desastrosas surpresas. Pressente-se que a
realidade crítica não é ainda conhecida por eles na
sua verdadeira extensão e complexidade. O seu saber
e a sua experiência soçobram e não se sabe até que
ponto terão, eles mesmos, aquela capacidade de
inovação que tanto vinham a exigir aos agentes
económicos como factor de competitividade.
Os governos não chegarão tão cedo a soluções
satisfatórias, em parte por haver interesses
contraditórios dos respectivos países e das forças
políticas em que se inscrevem, em parte porque essas
soluções dependeriam, para terem alguma eficácia, de
uma uniforme adopção de medidas à escala global (por
exemplo, acabar com os offshores em toda a parte), o
que é ainda manifestamente impossível. E é de prever
que, sejam quais forem as medidas, haverá também
muito quem tente transformá-las num bom negócio.
Por outro lado, se a dimensão da crise se avolumar
em termos socialmente insuportáveis, vão certamente
agravar-se em idêntica medida os problemas da ordem
pública e da segurança de pessoas e bens, não se
vendo que esteja assegurado o funcionamento de
mecanismos de exercício da autoridade. Pode
imaginar-se uma situação como a grega, provocada por
gente faminta em vez de o ser por bandos
anarquistas, a alastrar à escala europeia, mas já é
mais difícil imaginar como é que a sua propagação
poderia ser eficazmente contida. Visto o que tem
acontecido entre nós, em casos como o do milho
transgénico ou o dos criminosos que vêm para a rua
pelas razões mais aberrantes, esta é uma daquelas
situações que, em Portugal, seriam da ordem da
caricatura grotesca.
A crise portuguesa é muito anterior à eclosão da
crise internacional. Deve-se à imprudência e à
incompetência dos governos do PS. Agravou-se ao
longo dos últimos anos por causa disso mesmo. Na sua
origem, confluem todas as aselhices e demagogias da
governação Guterres desde 1996 e da governação
Sócrates desde 2005.
O primeiro-ministro anuncia agora um período de
vacas esqueléticas com a mesma convicção
indefectível com que, ainda há muito pouco tempo,
previa que os tempos socialistas iam ser pingues de
enxúndia.
Mas ele é de um surrealismo descabelado e
incorrigível. Agora presta-se a prestamista imediato
dos funcionários públicos, sem, pelos vistos, perder
tempo com a questão dos juros.
O que não o preocupa na mesma medida é o Natal dos
desempregados e dos excluídos. Ou o Natal daqueles
que têm empregos precários ou mal pagos do sector
privado. Estes também têm as maiores dificuldades e
também pagam impostos. Nenhum banco lhes dá crédito
em condições favoráveis. Acabarão a suportar os
juros daqueles empréstimos?