Diário de Notícias - 23 Dez 08

 

Famílias católicas preferem orações a presentes de Natal
Patrícia Jesus

 

Natal. Tradições católicas vão além da Missa do Galo

 

O tempo do Advento é celebrado por católicos com orações em família à volta do presépio

 

No último domingo, Teresa Jardim e a família juntaram-se para acender a última das quatro velas da coroa do Advento, o tempo que antecede o Natal: uma por cada domingo antes do dia 25. Para os católicos, esta é a segunda data mais importante do ano litúrgico, logo a seguir à Páscoa, em que assinalam a morte e ressurreição de Jesus Cristo. Por a festa focar o "menino Jesus" no ambiente familiar é também , por excelência, a festa das famílias.

 

O presépio, no centro da sala, indica a importância de Jesus e da fé para esta família, que não compreende o conceito de católico não praticante. "No primeiro domingo enfeitamos a casa e fazemos o presépio, que não é simplesmente uma decoração, ajuda a prepararmo-nos para o Natal, para o nascimento daquele que nos veio salvar", explica a educadora de infância, de 45 anos. Como? "Durante o Advento tentamos reunir todos os dias para rezar. Nem sempre é possível, mas é um momento forte de união. Comunicamos com Deus mas também entre nós." Francisco, de 15 anos, lembra as palavras de Jesus para sublinhar a importância de rezarem juntos: "quando ou três reunirem estarei entre vocês". Para Manuel, de 19, fazer a festa do Natal "sem convidar Jesus", "o aniversariante", não faz sentido. O jovem faz questão de conversar abertamente sobre essa contradição com colegas e amigos não católicos.

 

Cada domingo, a família - Teresa, o marido e os cinco filhos, com idades entre os nove e os 19 anos - reúnem para rezar, lêem alguns poemas e textos de apoio para ajudar à reflexão. "Terminamos com qualquer coisa para pôr em prática durante a semana como 'vamos ser simpáticos para aquele colega do emprego ou da escola que não gosta nada de nós'".

 

Este é também tempo de evangelização. Filipa Alvim, de 33 anos, admite que esta é uma boa altura para incutir o espírito cristão nas quatro filhas - Maria, Mafalda, Mariana e Madalena. "Tentamos participar nas várias celebrações definidas pela paróquia, a missa de dia 8, dia da Imaculada, a missa do galo mas sobretudo lembrar que somos personagens vivas do presépio", diz. "Tentamos pensar que lugar queremos ter na vida de Jesus, porque o presépio representa a família".

 

Na procissão da "Via da Alegria", Maria do Carmo Espírito Santo, de 51 anos, explica que além da tradicional missa do galo não perde a missa do dia de Natal e que na sua aldeia ainda se reza a novena "todos os dias às 6 da manhã antes de as pessoas irem para o trabalho".

 

Presentes com significado

 

Apesar de valorizarem o lado espiritual da época, nem a família de Teresa, nem a de Filipa prescinde da troca de presentes. Para educadora de infância, dar um presente tem imenso significado. "É preciso equilíbrio e não deixar que isso desvie a atenção da essência do Natal: o nascimento de Jesus", diz. Para a filha Matilde, de 9 anos, os presentes eram mais valorizados quando era mais pequena. "Agora que já percebo o significado do Natal já não dou tanta importância", diz com seriedade. Aliás, costuma fazer as suas próprias ofertas e os irmãos asseguram que dão mais valor a estas do que a bonecos que vão esquecer rapidamente.