Por um punhado de brutos euros José Alberto Brandão, Aveiro
Ouvindo as notícias na rádio e as reacções
surrealistas do pseudo-senador Almeida Santos "de
que temos de ser humanos e aceitar a pretensão dos
deputados de terem a sexta-feira livre", não posso
deixar de fazer uma reflexão, estabelecendo um
paralelismo entre a minha profissão de professor e a
de deputado.
Eu estou colocado a dar aulas a 80 km de casa, ganho
900 euros líquidos. Tenho dezenas de alunos e
preencho regularmente dezenas de fichas e documentos
obrigatórios. Tenho um horário escolar
manhã-tarde-noite e estou em estágio profissional a
20 km do local de trabalho. Comparando a minha
situação com a de colegas, sou, mesmo assim, um
privilegiado. É que não tenho uma centena de alunos,
já que o estágio me reduz o horário em seis horas e
só tenho este ano lectivo cursos profissionais,
cujas turmas são menores. Assim disponho de algum
tempo para descanso, para ter um pouco de vida
social, ao contrário de muitos outros. Os meus
alunos lidam comigo diariamente, respondo perante
eles, o Conselho Executivo e Ministério da Educação.
Os caros deputados do distrito de Aveiro, onde moro,
não os conheço, nunca soube de pactos legislativos
de sua iniciativa sobre a região e nunca os vi
grandemente preocupados com os dramas que têm
ocorrido na zona: incêndios, poluição, falta de
saneamento básico, etc. Isto apesar de ler os
jornais todos os dias.
Bem sei que eles só ganham 3600 euros brutos por mês
e mais uma ajuditas de representação e deslocação. E
que só ao fim de meia dúzia de anos terão direito à
merecida reforma da política. Que têm família quase
todos, ao contrário da maioria dos professores que
conheço, que só têm talento para viver para a
comunidade escolar e para as universidades, onde
estão em constante formação.
Quanto aos representantes do povo do distrito de
Aveiro, são o que são, valem o que valem (isto sem
avaliação aprovada, por enquanto...) e a política
que se faz é o que é. E, pensando bem nesta, tudo é
permitido, só faltando que a rédea solta parlamentar
atinja os píncaros que atingiu em Chicago. Lá, a
máfia do sistema tudo permite vender e comprar,
lembrando que Al Capone há muito foi ultrapassado.