Público - 17 Dez 08

 

Por um punhado de brutos euros
José Alberto Brandão, Aveiro

 

Ouvindo as notícias na rádio e as reacções surrealistas do pseudo-senador Almeida Santos "de que temos de ser humanos e aceitar a pretensão dos deputados de terem a sexta-feira livre", não posso deixar de fazer uma reflexão, estabelecendo um paralelismo entre a minha profissão de professor e a de deputado.

 

Eu estou colocado a dar aulas a 80 km de casa, ganho 900 euros líquidos. Tenho dezenas de alunos e preencho regularmente dezenas de fichas e documentos obrigatórios. Tenho um horário escolar manhã-tarde-noite e estou em estágio profissional a 20 km do local de trabalho. Comparando a minha situação com a de colegas, sou, mesmo assim, um privilegiado. É que não tenho uma centena de alunos, já que o estágio me reduz o horário em seis horas e só tenho este ano lectivo cursos profissionais, cujas turmas são menores. Assim disponho de algum tempo para descanso, para ter um pouco de vida social, ao contrário de muitos outros. Os meus alunos lidam comigo diariamente, respondo perante eles, o Conselho Executivo e Ministério da Educação.

 

Os caros deputados do distrito de Aveiro, onde moro, não os conheço, nunca soube de pactos legislativos de sua iniciativa sobre a região e nunca os vi grandemente preocupados com os dramas que têm ocorrido na zona: incêndios, poluição, falta de saneamento básico, etc. Isto apesar de ler os jornais todos os dias.

 

Bem sei que eles só ganham 3600 euros brutos por mês e mais uma ajuditas de representação e deslocação. E que só ao fim de meia dúzia de anos terão direito à merecida reforma da política. Que têm família quase todos, ao contrário da maioria dos professores que conheço, que só têm talento para viver para a comunidade escolar e para as universidades, onde estão em constante formação.

 

Quanto aos representantes do povo do distrito de Aveiro, são o que são, valem o que valem (isto sem avaliação aprovada, por enquanto...) e a política que se faz é o que é. E, pensando bem nesta, tudo é permitido, só faltando que a rédea solta parlamentar atinja os píncaros que atingiu em Chicago. Lá, a máfia do sistema tudo permite vender e comprar, lembrando que Al Capone há muito foi ultrapassado.